Como
em outros Mundiais, impacto da Copa de 2014 na economia será pequeno.
Apesar do investimento
bilionário, evento deve ter influência apenas pontual em alguns setores, como o
de turismo. Entre os motivos, investimentos em infraestrutura que não saíram do
papel e excesso de feriados.
Quando o Brasil recebeu a confirmação de que
sediaria a Copa do Mundo, uma das grandes expectativas era que o evento poderia
aquecer a economia e, de alguma forma, se refletir no Produto Interno Bruto
(PIB). Mas, a cerca de 100 dias para o pontapé inicial, tudo indica que o
efeito do Mundial será menor que o esperado.
A expectativa era tão grande que o Itaú Unibanco
divulgou em julho de 2011 um estudo afirmando que o Mundial traria um impacto
positivo de 1,5 ponto percentual no PIB nos três anos seguintes. Porém, em
dezembro de 2013, o banco diminuiu a previsão para cerca de um ponto
percentual.
Um dos motivos para o impacto no PIB ser menor é
o baixo investimento na infraestrutura das cidades-sedes – não há estimativa
oficial, mas o total deve ser inferior aos cerca de 33 bilhões de reais
divulgados em estudo do Ministério do Esporte em março de 2010. Além disso,
colaboram negativamente o atraso em obras e projetos que nem sequer vão sair do
papel.
“Os projetos que eram importantes para a
sociedade e que efetivamente iriam impactar positivamente na economia depois da
Copa não existem”, afirma José Matias-Pereira, professor de administração
pública da UnB. “Se principalmente os projetos de mobilidade tivessem saído do
papel, o reflexo no crescimento do PIB seria muito maior.”
Matias-Pereira explica que o grande investimento
em estádios – considerados por ele uma infraestrutura não produtiva e que não
gera efeitos positivos na economia – deve ocasionar enormes custos de manutenção
para o governo e anular parte dos ganhos que foram gerados para o país, por
exemplo, no setor de construção civil.
Feriados
De acordo com a Lei Geral da Copa, o governo
federal pode declarar feriado nacional nos dias em que houver jogo da seleção
brasileira. Estados e cidades-sede poderão fazer o mesmo em dia de qualquer
partida que receberem. Apesar de muitos governantes ainda não terem decidido o
que vão fazer, o impacto das seguidas pausas será grande para empresários e a
economia.
Por causa de feriados, empresários e economia
brasileira deverão perder 30 bilhões de reais.
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) divulgou recentemente um estudo
que avalia o impacto dos 64 feriados previstos nas cidades-sedes – sete deles,
na hipótese de o Brasil chegar até a semifinal, serão feriados nacionais. A
produção brasileira, segundo a pesquisa, pode sofrer em um mês perda de até 30
bilhões de reais.
“Se por um lado você tem o aquecimento, por outro
você verifica o desaquecimento. Se você tem uma indústria e vai ser feriado,
você vai ter que pagar hora dobrada para o funcionário trabalhar ou vai ter que
fechar a fábrica neste dia e vai produzir menos”, diz Samy Dana, economista da
FGV.
Ele explica, ainda, que mesmo que alguns setores
como hotelaria e restaurantes sejam aquecidos pontualmente por causa do
turismo, o estímulo não será suficiente para compensar as perdas geradas por
causa dos feriados.
“A Copa, em termos econômicos, não deverá ser
compensada. Deve haver um ou outro setor beneficiado, mas, em regra, o evento
não impulsiona o PIB”, diz.
Efeito negativo
Outro estudo, do pesquisador Stefan Szymanski, da
Universidade de Michigan (EUA), mostra que o fato de um megaevento como a Copa
não impulsionar o PIB de um país não deve ser um problema exclusivo do Brasil.
Ele analisou os dados do PIB entre 1972 e 2002 das maiores 20 economias do
mundo, muitas das quais receberam um Mundial.
De acordo com estudo, Mundial não impactou de forma
positiva todos os países que o receberam.
A conclusão foi que o Mundial provoca um impacto
negativo no PIB de 0,09% no ano seguinte à sua realização. Já nos anos
anteriores e no ano em que o evento é realizado, a variação foi muito pequena e
não apresenta uma melhora significativa nos indicadores econômicos.
Gilberto Braga, professor de finanças do
Ibmec/RJ, lembra que uma Copa realizada em países abaixo da linha do Equador é
diferente de um evento na Europa, sobretudo em países onde há outro nível de
desenvolvimento social e econômico. Além disso, nesses países que já têm uma
estrutura consolidada não foi necessário investimentos estruturais, como no
Brasil, para receber o megaevento.
“Há indução ao crescimento do PIB. No Brasil
praticamente tivemos a construção e reforma de 12 estádios e isso produz um
grande impacto, pois gera demanda agregada em uma série de setores ligados à
construção civil”, diz Braga. “O impacto só não será maior por conta da
fragilidade da economia brasileira.”
Fonte: Agência Deutsche Welle
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