Documentário ‘A saúde está entre
nós’ inspira debate sobre agroecologia, saúde e comunicação.
Tema do documentário A saúde está entre nós,
a construção de pontes entre o conhecimento tradicional e o conhecimento
científico ainda se coloca como um desafio. O curta-metragem retrata
experiências de cultivo de plantas medicinais e de redes sociais de apoio a
produtores e também aborda iniciativas de capacitação comunitária em
beneficiamento e comercialização de matérias-primas e de atendimento com
fitoterápicos pelo SUS. Apesar destas iniciativas de aproximação, o filme
evidencia um grande distanciamento entre os saberes. Exibido no auditório
do Museu da Vida, na Fiocruz, o vídeo, que integra a série Curta
Agroecologia, produzida pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA),
VideoSaúde e Canal Saúde, inspirou uma roda de conversa sobre comunicação,
saúde e agroecologia com a participação de representantes de movimentos
sociais, pesquisadores e jornalistas.
O
vídeo retrata experiências de cultivo de plantas medicinais e de redes
sociais de apoio a produtores e também aborda iniciativas de capacitação
comunitária em beneficiamento e comercialização de matérias-primas e de
atendimento com fitoterápicos pelo SUS
Presente à abertura do debate, o vice-presidente de
Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Valcler Rangel Fernandes, afirmou que
promoção da saúde e agroecologia caminham juntas. “A base tecnológica de
produção agropecuária que temos hoje, dominada pelo agronegócio, produz doença,
porque utiliza muitos produtos químicos, principalmente agrotóxicos e
fertilizantes. Precisamos apontar para um novo modelo de produção agropecuária
que deve passar por um novo modelo de desenvolvimento do campo.
Consideramos a
produção agroecológica uma alternativa concreta. O vídeo se refere à condição
que precisamos construir de conhecimento da sociedade acerca dessa alternativa
e serve para mobilizar as pessoas para a mudança. O papel da Fiocruz é de
contribuir com essa virada para que possamos ter mais saúde”, afirmou Fernandes.
Ele lembrou que a Fundação vem construindo parcerias para ação em promoção
da saúde e que a articulação com movimentos sociais é basilar na área de
ambiente e saúde.
Segundo o vice-presidente, a primeira questão que se coloca é
a dos agrotóxicos, que o Brasil consome mais que qualquer outro país no
mundo. “A agroecologia é uma discussão que deve ser trazida para o campo
da saúde. Assumimos essa tarefa de promover a aliança entre movimentos sociais
vinculados à agroecologia e a área de pesquisa, ensino e produção, e buscamos
estimular o diálogo, disseminar conhecimentos e alavancar lutas. O vídeo
colabora muito para o conhecimento de alternativas saudáveis em produção de
alimentos”, disse.
A professora Inesita Araújo destacou a relevância
da historicidade das relações entre os saberes e do poder simbólico de cada um
de fazer ver e fazer crer. “Na nossa sociedade, a saúde é um conhecimento
especializado e movido por grandes interesses”, atestou. Para ela, a
agroecologia precisa pensar estratégias para a sua luta. “Conseguir falar com o
poder público e com o consumidor será um grande avanço”,
afirmou. Márcia Corrêa e Castro, do Canal Saúde, destacou o papel da
comunicação ao observar que a saúde pública ainda fala só para a saúde pública
e a agroecologia para agroecologia. “É preciso articular os discursos”,
enfatizou.
Natália Almeida Souza, da ANA, destacou a
importância de se aprimorar o diálogo com a sociedade e elogiou a Fiocruz pela
recente divulgação de uma carta aberta alertando a população sobre mudanças na
legislação que regula o uso de agrotóxicos. “A Carta da Fiocruz vem em
momento oportuno, porque a legislação vem sendo flexibilizada e há duas
propostas: uma dos ruralistas e outra da indústria de agroquímicos”, disse.
Segundo ela, o interesse desses setores é tirar da Anvisa e do Ibama o poder de
avaliar os agrotóxicos, atribuindo apenas ao Ministério da Agricultura esta
responsabilidade, como se não fosse houvesse relação com saúde e meio ambiente.
Ela lembrou que o Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), a ser realizado de
16 a 19 de maio em Juazeiro (BA) discutirá como a mensagem de movimentos
populares como o da agroecologia pode chegar à grande mídia.
Pílulas do filme
Entrevistada em sua casa, onde cultiva ervas junto
com a mãe, Elizabeth Marins, da Rede Fitovida, conta que o cultivo é uma
relação do seu corpo com a terra, o quintal, a família, a rede comunitária. “A
gente valoriza muito a interlocução com o outro”, ressalta. Segundo ela, o
principal objetivo do movimento que integra é que o conhecimento sobre as
plantas medicinais se torne patrimônio imaterial. Coordenadora do Profito
– projeto do Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde do Instituto de
Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) – ela explica que deve-se respeitar
o conhecimento que os alunos trazem, mas buscar o diálogo da tecnologia e da
ciência com o tradicional. “A sociodiversidade é muito mais rica do que a
biodiversidade sozinha”, diz.
O médico Alex Botsaris esclarece que a fitoterapia
aplicada no SUS tem base no conhecimento tradicional, mas é validada
cientificamente. Ele explica que o uso da fitoterapia na saúde pública está
previsto na Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde. Por outro lado, os alunos de medicina não estudam
plantas medicinais na faculdade e que tampouco a indústria farmacêutica tem
interesse “nesse tipo de coisa”. “Ela sempre se movimenta para desqualificar,
dizer que não funciona, que é de segunda categoria, que só serve para tratar
besteira”, lamenta.
Serviço
A saúde está entre nós pode ser visto na íntegra no
Canal da Articulação Nacional de Agroecologia. Os interessados em adquirir uma
cópia em DVD devem entrar em contato com a VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz
pelo e-mail videosaude@icict.fiocruz.br ou
pelos telefones (21) 2290-4745 e 3882-9109. Veja aqui
o trailer e aqui
o vídeo na íntegra.
Fonte: Agência
Fiocruz de Notícias
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