A Água, o Lixo e a Vida! Artigo
de Geraldo Moisés Martins.
Podemos viver sem diamantes, mas jamais
viveríamos sem a água. Cantareira está provando isso para os paulistas da
capital. Temos somente um dia do ano para nos lembrar de que a água doce vem se
tornando cada vez mais escassa e de pior qualidade. Principalmente para a maior
parcela da população mundial, constituída por países e pessoas pobres. Mas a
crise atinge também os ricos. Na verdade, todos os seres vegetais, animais e
humanos estão com as suas vidas ameaçadas.
Lamentavelmente, para uma grande maioria de
indivíduos esse problema não causa preocupação devido ao desconhecimento e à
cegueira diante da realidade. Muitos outros têm consciência, mas por comodismo
e omissão, preferem fechar os olhos e cruzar os braços. Por isso, todos nós,
cristãos ou não, somos desafiados a tomar uma atitude firme e permanente em
defesa da água, desde a sua formação, as suas nascentes, os seus cursos até o
seu encontro com o mar.
Com esse objetivo, a Pastoral da Ecologia da
Diocese da Campanha sugere um tema para reflexão e ação nesse dia: “A ÁGUA, O
LIXO E A VIDA”!
Mas, o que o lixo tem a ver com a água?
Muitíssimo, pois esses três elementos estão entrelaçados. Em especial, nos
tempos atuais porque o modelo econômico em que vivemos tem por base o
consumismo desenfreado que exige uma exploração, em escala avassaladora, dos
bens que a natureza dispõe de forma limpa e harmônica. Esses bens, depois de
utilizados, são devolvidos ao meio ambiente de forma contaminada, poluída e
quase irrecuperável. Demoram dezenas e centenas de anos para a decomposição
necessária ao retorno ao ciclo natural de renovação da vida. A natureza não
produz lixo! Sua alarmante degradação é consequência desse consumo desenfreado
e da quantidade de lixo produzido pelo atual modo de vida irracional e suicida
dos humanos.
Ninguém nega que mais água e menos lixo é igual a
mais vida saudável. Infelizmente, essa equação está invertida. A cada dia,
temos mais lixo, menos água e piores condições de vida.
Será possível reverter esse processo destrutivo?
Claro que sim! Mas não basta ter consciência desse drama! É preciso agir com
determinação e urgência. Mas isso é muito mais difícil do que se possa
imaginar. Há barreiras intransponíveis. Quem estaria, por exemplo, disposto a
renunciar aos padrões apelativos e prazerosos do consumo supérfluo?
A inclusão do lixo nessa questão é necessária por
estar na ordem do dia em todos os municípios que ainda não equacionaram o
problema dos resíduos sólidos. Terão até agosto desse ano para dar uma
destinação correta ao descarte do lixo urbano. Não dá mais para esperar e
prorrogar uma solução que a natureza reclama há dezenas e dezenas de anos.
Existe, obviamente, a má vontade dos governos.
Bastaria, por exemplo, um pequeno percentual do que se esbanjou ou está se
esbanjando na farra das obras para a Copa para resolver as carências de
saneamento em todos municípios em situação precária. O benefício seria
patrioticamente maior que a conquista circense do título de hexacampeão mundial.
O País estaria derrotando a vergonha da poluição dos solos, das águas e da
atmosfera.
Também, muitas administrações municipais preferem
priorizar a recuperação de ruas, praças, monumentos e obras eleitoreiras. Elas
até podem ser importantes, mas não têm a mesma prioridade diante do quadro de
emergência e de penúria medieval em se encontra o tratamento do lixo e do
esgoto em muitas de nossas cidades.
A solução está numa pequena palavra: VONTADE!
Basta a população querer, as lideranças civis, as organizações empresariais e
religiosas apoiarem e os governos municipais cumprirem suas responsabilidades
legais perante o bem comum.
É possível encontrar formas comunitárias e
cooperativas de coleta seletiva, separando-se o lixo orgânico do lixo sólido
(papel, vidros, metais, plásticos e outros). O primeiro para a compostagem e
produção de fertilizantes e o segundo para a triagem do material reciclável.
Alguns municípios mais comprometidos com a sustentabilidade já construíram boas
soluções que geram empregos e trazem algum retorno para as prefeituras.
Mas o maior bem que essas iniciativas
proporcionam é o de garantir uma vida saudável. Essa é a primeira condição para
um viver feliz. Uma cidade suja e poluída será sempre uma cidade doente,
infeliz e amarga.
Vê-se que os elos entre a água, o lixo e a vida
são muito fortes. Tornar essa equação positiva é construir um município
sustentável. Somente uma cidade limpa e saudável é uma “cidade feliz”! É o
reconhecimento que se deseja para todas as cidades brasileiras.
Lambari, março de 2014.
Geraldo Moisés Martins
Coordenador Diocesano da Pastoral da Ecologia
Diocese da Campanha
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário