terça-feira, 11 de março de 2014

Livro sobre o Rio Paraíba do Sul é lançado em São Paulo.

Reportagem em texto e fotos conta a história da urbanização em torno do rio para contextualizar suas questões ambientais.

O Rio Paraíba do Sul nasce na Serra da Bocaina, no estado de São Paulo, e deságua no Atlântico em Atafona (São João da Barra), ao norte fluminense, quase na divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo. Após seus 1200 km de percurso, as águas perdem substancialmente o fôlego da vazão por conta de transposições, barragens e assoreamentos. No trajeto do rio, ocorre a maior transposição do Brasil — a do Rio Gandu, que desloca dois terços do seu volume de água para abastecer a região metropolitana do Rio de Janeiro. São 60 mil litros de água por segundo.

Essa e outras questões ambientais da bacia hidrográfica são contextualizadas no livro  “Paraíba do Sul – História de um Rio Sobrevivente”, grande reportagem realizada pelos jornalistas Valdemir Cunha (fotógrafo) e Luís Patriani (repórter), que viajaram por todo o percurso do Rio Paraíba do Sul para situá-lo sob seus aspectos ambientais, culturais, históricos e geográficos. Na quarta-feira, 27, acontece o lançamento do livro, a partir das 19h, na Livraria Vila, na Vila Madalena.

No entorno das duas maiores capitais do Brasil, o rio Paraíba do Sul ainda sobrevive à ocupação urbana e ao intenso processo de industrialização do eixo Rio-São Paulo. “Mas essa sobrevivência foi garantida quase ‘por acaso’; pelo próprio rio e sua força cultural. Ela ainda possui muitas interrogações”, defende Patriani.

Para explicar essas transformações, o jornalista faz um resgate histórico desde as incursões dos Bandeirantes e do caminho do ouro em Minas Gerais, passando pelo crescimento das lavouras de cana e café, mineração e início da industrialização. O livro também traz histórias sobre como a vida dos habitantes do entorno foi transformada, no que diz respeito à pesca e ao impacto que a construção da Via Dutra provocou na paisagem.

Riscos ambientais

Hoje, são cinco barragens no Paraíba do Sul, que alteram substancialmente sua vazão. “Umas das partes mais bonitas é a foz do Rio Paraíba do Sul, quando entra em contato com o mar. Mas é visível o que transformação humana faz: o mar está invadindo a Vila Atafona”, revela Cunha.

Patriani ainda alerta para os perigos que uma segunda transposição poderia causar — intervenção sugerida em um decreto do governo do Estado de SP, em 2008. “O Paraíba do Sul não vai sobreviver a uma nova transposição. A água pode nem chegar ao Rio de Janeiro”, sugere.

Outras questões ambientais são colocadas no livro. Boa parte das das cidades e indústrias que cresceram às margens do Paraíba do Sul despeja efluentes tóxicos em suas águas. “A primeira parte do rio é como se fosse outro Paraíba do Sul, onde as cidades do entorno têm uma relação cultural bem mais forte com ele. Até chegar na barragem de Paraibuna, que marca um divisor não só na vazão, mas em toda a paisagem. É partir dela que chegam grandes cidades no percuso, como Jacareí, São José dos Campos e Taubaté. A poulição aumenta muito, e presta-se menos atenção ao Paraíba do Sul”, lamenta Patriani.

Segundo pesquisa realizada no ano passado pela Universidade de Taubaté (UNITAU), no trecho paulista entre Tremembé e Aparecida, amostras de água do Paraíba do Sul têm substâncias como metais pesados, como alumínio e ferro, inseticidas e herbicidas. Tais substâncias causam prejuízos graves ao ecossistema da bacia e à saúde das 9 milhões de pessoas que são abastecidas por ela. Patriani revela que “São José dos Campos tem 46%, e Taubaté 1% de esgoto tratado. Boa parte dos efluentes dessas cidades vão para o rio”.
Fonte: ESTADÃO

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