Laboratório Nacional de
Biociências (LNBio) seleciona propostas para testes alternativos ao uso de
animais.
O Laboratório Nacional de Biociências (LNBio)
recebe até sexta-feira (28) propostas de teste in silico para
medicamentos e cosméticos. Esses procedimentos computacionais são uma
alternativa ou complemento ao uso de animais em laboratório, pois excluem do
processo de pesquisa moléculas pouco viáveis no desenvolvimento de determinado
fármaco. Assim, quanto mais substâncias foram testadas in silico menos
experimentos em animais serão necessários.
A alternativa também reduz o tempo e os
investimentos para criação de produtos, pois é feita a partir de um banco de
dados mundial sobre estruturas químicas. Os métodos aplicados nos testes in
silico preveem atividades biológicas, efeitos tóxicos, biodisponibilidade
por via oral e possíveis interações moleculares.
O LNBio dedica-se à pesquisa e inovação nas áreas
de biotecnologia e à descoberta e desenvolvimento de fármacos. Empresas,
universidades e instituições de ciência e tecnologia públicas ou privadas que
estão estudando alguma substância podem participar da seleção. Dez propostas de
ensaio serão selecionadas para testes bancados pelo LNBio, por meio da Rede de
Métodos Alternativos (Renama), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação,
da qual o laboratório faz parte.
O gerente de Desenvolvimento de Fármacos do
LNBio, Eduardo Pagani, explica que os testes in silico não eliminam a
necessidade da experimentação animal, apenas reduz o número de substâncias a
serem testadas in vivo. “Atendemos às normas nacionais e
internacionais. Podemos fazer os testes in vitro, em tecidos, in
silico, com as simulações por computador. [isso] é o que existe de
alternativa, mas acabar com a experimentação animal acho improvável.”
A obrigatoriedade dos testes in vivo
começou na década de 1960, após um acidente com a substância talidomida. O
medicamento foi lançado na Alemanha e vendido no mundo todo com a indicação de
combater o enjoo em grávidas. Na época, milhares de mães que usaram o
medicamento tiveram filhos com deformações. “O caso gerou uma comoção geral e
reuniões de decisões que resultaram em um conjunto de normas que exige o uso de
animais. Não é opção, é exigência, para garantir a segurança do ser humano. Por
outro lado, hoje temos pressões, legítimas, para que se elimine os testes em
animais, e aí surgem os métodos alternativos”, explicou ele.
Em 2013, ativistas pelos direitos dos animais invadiram
as instalações do laboratório em São Roque (SP) e retiraram 178 cachorros
usados em pesquisas. Arquivo/Agência Brasil
Para o gerente, o que ocorreu no Instituto Royal, em outubro de 2013, foi um retrocesso. Na
época, ativistas pelos direitos dos animais invadiram as instalações do
laboratório em São Roque (SP) e retiraram 178 cachorros usados em pesquisas.
“Entendemos como legítimas as pressões. O animal está vivo, tem dor, mas
precisamos lidar [com isso] com ponderação, com ética, evitar os testes
desnecessários. No passado, houve excessos, mas hoje o avanço é muito grande.”
Segundo Pagani, o prejuízo de ações unilaterais
como essa é grande. “Quem desenvolve fármacos diz que demora 15 anos e custa R$
1 bilhão para colocar um produto no mercado. O Brasil desenvolve poucos. A
maioria é produzida no exterior. O país tem um déficit comercial farmacêutico
de R$ 6 bilhões por ano.
Então precisamos gerar também um esforço público, no
sentido de reduzir esse déficit, que o Brasil pare de mandar esse montante para
fora, que ele fique aqui para os brasileiros desenvolverem seus remédios.”
O LNBio integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM),
uma organização social privada supervisionada e financiada pelo Ministério de
Ciência e Tecnologia, localizada em Campinas (SP).
A Renama
foi criada em 2012 e acompanha o panorama internacional que fomenta o princípio
dos 3Rs: Reduce – redução do número de animais necessários às pesquisas
científicas; Refinement – refinamento das técnicas de experimentação a fim de
diminuir o sofrimento animal; e Replace – substituição de testes in vivo por
métodos alternativos. “Estamos no primeiro r, estamos reduzindo [esse número]
por meio de uma iniciativa sólida e consistente, e vamos atender a essa demanda
dentro do possível.”
Fonte: Agência Brasil
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