domingo, 16 de março de 2014

Temperaturas extremas pressionam produção energética no mundo.
Brasil sente os efeitos das altas temperaturas e de chuvas insuficientes

A tendência já verificada por cientistas de que extremos climáticos se tornem mais comuns, fazendo com que sejam registradas com frequência temperaturas muito mais altas ou muito mais baixas do que a média, tem pressionado a produção de energia no mundo.

Um relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, ligado à ONU) havia indicado, no semestre passado, que as mudanças nos padrões climáticos devem levar não apenas a temperaturas mais altas, como também a mais secas e enchentes. Estudos sugerem também que alterações em ventos de grande altitude, provocados pelas mudanças climáticas, favoreçam ondas de frio extremo.

Em países como Brasil, Argentina, Austrália, Estados Unidos e Canadá, operadoras de energia têm identificado mudanças nos padrões de consumo, com novos picos, em grande parte causadas pela necessidade de resfriar ou aquecer ambientes.

Ainda que não haja dados globais de consumo relacionados à temporada de forte calor e frio, a Agência Internacional de Energia aponta a forte correlação entre as temperaturas externas e o uso energético – e explica que o consumo extra muitas vezes tem anulado “os efeitos de medidas tomadas para melhorar a eficiência energética”.

No caso brasileiro, o verão extremamente quente e seco provocou recordes históricos de demanda de energia em dias de janeiro e fevereiro, segundo dados da ONS (Operadora Nacional do Sistema Elétrico).

Nesta quarta-feira, a operadora informou que o consumo de energia em fevereiro subiu 7,8% em relação ao mesmo mês de 2013.

Foram batidos consecutivos recordes de uso de energia, culminando com o pico histórico de demanda de 85.708 megawatts às 15h41 de 5 de fevereiro. “A causa se deve à continuidade das altas temperaturas e ao índice de desconforto térmico na hora de maior insolação”, constata boletim da operadora.

Além disso, o calor e a mudança nos padrões de consumo alterou os horários de pico brasileiros – tradicionalmente eram por volta de 18h às 20h, mas passaram a ocorrer entre 14h30 às 15h30, puxados em boa parte pelo uso de ar-condicionado em residências, escritórios e espaços comerciais.

“Um dos principais fatores é que aumentou muito a posse de aparelhos de ar-condicionado, (puxada pelo) aumento de renda e a nova classe média. Além disso, quando faz mais calor, é preciso mais energia para conseguir resfriar o ambiente”, diz à BBC Brasil Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério de Minas de Energia.

“Antigamente, o horário de ponta tinha o chuveiro elétrico como vilão. Agora, o ar tem ficado ligado durante boa parte do dia.”

Estiagem

O problema maior atual, no entanto, não é o aumento consumo de energia no Brasil, opina Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica (Gesel) da UFRJ.

“O problema é a seca, num período (de verão) em que deveríamos ter tido chuvas”, diz Castro à BBC Brasil, em referência à falta de chuvas no Sudeste brasileiro entre janeiro e fevereiro. “Como nossa matriz energética é 90% de hidrelétricas (ou seja, dependente da água da chuva), estamos perdendo reservatórios com as altas temperaturas e a falta de chuvas.”

Ele cita medições indicando que, nos primeiros 15 dias de fevereiro, choveu apenas um terço da média esperada para essa época do ano. No mês, as chuvas no Sudeste/Centro-Oeste tiveram o segundo pior volume do histórico de dados, desde que passaram a ser registrados.

Castro e Tolmasquim explicam que uma mudança importante é que o país não tem mais construído hidrelétricas com reservatórios de água (por motivos ambientais e porque o potencial dessas represas se esgotou). Na ausência de uma reserva, a chuva é ainda mais essencial para manter elevados os índices das hidrelétricas. E, na ausência de chuvas, o país tem tido que recorrer com mais frequência às usinas térmicas, que são mais poluentes.

Problema global

Os inconvenientes pelas altas temperaturas se repetiram na Austrália no início do ano, onde a alta demanda por energia elétrica provocou apagões pontuais em algumas regiões; e na Argentina, onde o jornal La Nación informou, em 1º de fevereiro, que o calor também provocou dias de recorde de consumo energético.

Já na América do Norte, o problema recente foi o frio extremo do início do ano, causado pelo fenômeno do vórtice polar (massas de ar do ártico na forma de ciclones) e por persistentes ondas frias.

“As temperaturas ao leste das Montanhas Rochosas estão significativamente mais frias neste inverno em comparação com o ano passado e a média anterior de dez anos, colocando pressão crescente sobre o consumo e sobre o preço de combustível para aquecer ambientes”, diz relatório de fevereiro da Administração de Informações Energéticas dos EUA.

Efeito semelhante foi sentido no leste do Canadá.

Relatório de fevereiro da Organização Meteorológica Internacional, ligada à ONU, lista “uma série de condições climáticas extremas nas primeiras semanas de 2014, dando continuidade a um padrão visto em dezembro de 2013″.

Fonte: BBC Brasil

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