Usinas no rio Tapajós: desconstruindo mentiras do
governo – Parte 2
Por Telma Monteiro
Hoje fiquei muito indignada com a matéria da Folha
de SP (Governo
quer leiloar neste ano a 1ª ‘usina-plataforma‘, no Pará) sobre
as usinas planejadas para serem construídas no rio Tapajós. Lamentável, também,
é que em uma lauda de informações quase que totalmente questionáveis, há lá no
finalzinho, uma fala do meu amigo Celio Bermann que, tenho certeza, disse muito
mais do que foi publicado.
Tanto a Folha de SP como os demais veículos
chamados de grande mídia, que eu chamo de mídia alienadora, perdem uma grande
oportunidade de mostrar aos leitores a verdade. Não é preciso dar opinião, já
que os jornalistas, em sua maioria, se esquivam disso em nome da neutralidade.
Porém, é preciso mostrar sempre com igual isenção, e equidade de espaço, os
argumentos de especialistas.
Nesse caso específico, a Folha mostrou apenas o que
diz o governo e seus apaniguados. Sabidamente Mario Zimmermann e Maurício
Tolmasquim são instrumentos de um setor caquético, mal administrado, sem
transparência e que se tornou uma verdadeira caixa preta inexpugnável. Eles
fazem coro com o secretário do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura
Filho, que despejou mentiras em outra publicação e que foi objeto da minha nota
anterior (Parte
I).
Agora vem esse texto tendencioso que transmite
informações no mínimo desqualificadas. Por exemplo, se refere a reflorestar o
local depois da construção da hidrelétrica São Luiz do Tapajós. Como será
possível essa mágica? Vão desmanchar a obra? Plantar no reservatório? Talvez
usem uma varinha de condão.
Outra besteira fenomenal é tratar da região como se
fosse uma floresta intransponível. Alguém tem ideia da logística necessária
para transferir materiais para construir uma hidrelétrica? Milhares de
toneladas de rocha têm que ser retiradas, milhões de metros cúbicos de concreto
têm que ser despejados, milhares de toneladas de aço, desmatamento que empilha
milhões de metros cúbicos de madeira, escavações de milhões de metros cúbicos
de terra que têm que ir para um bota-fora, e os equipamentos como turbinas que
pesam milhares de toneladas cada uma, virão penduradas em helicópteros? E as
indústrias que precisam ser construídas nas proximidades? Dá para visualizar
tamanha interferência?
Não vou nem dissertar sobre os impactos ambientais
provocados pelos desvios dos rios para fazer ensecadeiras que costumam matar
milhares de peixes, acabar com a qualidade da água ou da inundação das margens
que dizimam a fauna e destroem a flora, o ecossistema.
Tem mais ainda, e acho que é o ponto chave: as
comunidades que estão na beira do rio Tapajós e que terão que ser
compulsoriamente retiradas. Elas irão para onde, para a cidade? E os impactos
nas terras indígenas? Ninguém menciona. E tem outra inverdade que é dizer
que o número de funcionários depois que a usina entrar em operação será reduzido.
Nunca vi tamanha cara de pau, pois normalmente esse número já é o menor
possível para operar as usinas. Hoje com a eficiência é tudo automatizado,
computadorizado e monitorado à distância. Quando há necessidade de manutenção
dos equipamentos e turbinas, a mão de obra especializada é fornecida por
empresas terceirizadas.
Não tem melhor negócio no mundo do que operar uma
hidrelétrica, pois o rio está ali correndo eternamente, o empreendimento já
construído e as turbinas funcionando 24 horas por dia e não tem custo de
matéria prima nenhum. É só faturamento nos próximos 35 anos, já que a energia
foi vendida antecipadamente, financiada pelo BNDES e com juros subsidiados!
Pois é, estão tentando enganar a opinião pública de
forma deslavada. Tem mais ainda, as estradas que existem na região, como
informa a matéria, na verdade terão que ser alargadas, melhoradas, para dar
vazão a tudo isso. E não significa que vão induzir à ocupação? Outro ponto,
esse não foi abordado, é com respeito às linhas de transmissão para transportar
a futura energia (se essa locura sair do papel) que, dada a criatividade atual
do governo, podem ser aéreas com balões de gás para não desmatar.
Mas, uma mensagem clara foi deixada por Celio
Bermann sobre os custos que poderiam advir dessa tal ideia de usina plataforma.
Lógico é, que para dar uma satisfação à sociedade, o governo vai mesmo inventar
uma forma de fazer essa tal invenção aparecer, mesmo que não dê certo no
futuro. No entanto, tudo vai sair mesmo é dos nossos bolsos.
Usina
plataforma? Só mesmo em alto mar!
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