Matança de golfinhos continua no
Japão apesar das críticas internacionais
Na baía de Taiji, pelo menos 30
golfinhos terão sido mortos para consumo. Outras dezenas são enviados para
parques aquáticos.
Foto: Reuters
A cena repete-se anualmente, sempre com os
mesmos protagonistas: centenas de golfinhos são encurralados pelos pescadores
na baía de Taiji, na costa oeste do Japão, apesar do protesto de várias
organizações ambientalistas. Depois de alguns dias presos, os golfinhos têm
três destinos possíveis: ou são libertados no mar, ou são enviados para
cativeiro, ou acabam esquartejados para consumo. Nesta terça-feira, terão
morrido pelo menos 30.
Segundo a agência Reuters, pelo menos 200
golfinhos – incluindo adultos, crias e um golfinho albino, raro, que será mais
valioso – estão presos desde sexta-feira na baía de Taiji. A CNN diz que serão
500, mais do que é habitual. Com a ajuda de barcos a motor e de redes de pesca,
os animais foram levados para uma zona de águas pouco profundas, onde eram
esperados por pescadores com fatos de mergulho e máscaras de snorkelling.
Estes lutaram com os golfinhos até à exaustão e prenderam-lhes as barbatanas
com cordas, para impedir a fuga.
Antes, os pescadores taparam o acesso à baía com
uma lona para fugir dos olhares de activistas e jornalistas, que tentavam
filmar e fotografar o massacre. Mas o sangue dos animais espalhou-se pela água
da baía, para lá dos limites da lona. “Foi usada uma barra de metal para lhes
esfaquear a espinhal medula e eles [os golfinhos] foram deixados a sangrar,
sufocar e morrer. Depois dos quatro dias traumáticos que passaram presos na
enseada da matança, foram alvo de uma selecção violenta, separados da família,
e eventualmente foram mortos hoje [terça-feira]”, disse à Reuters Melissa
Sehgal, da organização ambientalista Sea Shepherd, que publicou online
vídeos da matança.
Ouvido pela CNN, um pescador japonês que pediu o
anonimato disse que o número total de golfinhos destinados a cativeiro ou a
consumo seria “menor do que 100”, e que os restantes seriam libertados. Os
ambientalistas dizem que pelo menos 50 foram levados para parques aquáticos.
Ódio aos japoneses avisa Yoko Ono
Esta matança foi já fortemente criticada pela
comunidade internacional. O embaixador do Reino Unido no Japão, Timothy
Hitchens, e a embaixadora dos EUA, Caroline Kennedy, mostraram-se contra esta
prática. “O Reino Unido opõe-se a todas as actividades com golfinhos e botos,
que causam sofrimentos terríveis. Levantamos esta questão regularmente com o
Japão”, declarou Hitchens, num comentário na sua conta de Twitter. Por seu
lado, Caroline Kennedy mostrou-se “profundamente preocupada” com a matança.
Também a artista japonesa Yoko Ono, viúva do
cantor John Lennon, apelou aos pescadores que abandonem esta caça anual. Numa carta
publicada na sua página de Internet, dirigida aos pescadores daquela
localidade da província de Wakayama e ao primeiro-ministro japonês, Ono
escreve: “A forma como insistem numa grande celebração da matança de tantos
golfinhos e no rapto de alguns deles para vender aos zoos e restaurantes, neste
tempo tão sensível politicamente, fará com que as crianças do mundo odeiem os
japoneses.”
A captura e matança de golfinhos é uma prática
centenária naquela região e é fortemente defendida pelos moradores e pelas
autoridades, que alegam que aquela não está banida em nenhum tratado
internacional e que a espécie não está em perigo de extinção.
Em 2009, Taiji andou nas bocas do mundo quando o
documentário The Cove (A Enseada), premiado com um Óscar em
2010, denunciou a captura de golfinhos para parques aquáticos e o massacre de
milhares para consumo. Em Outubro, o município revelou um
plano que promete nova polémica: será criado um parque marinho, onde os
turistas poderão nadar e fazer canoagem ao lado de golfinhos e baleias. Mais
tarde, poderão comê-los.
Matéria de Marisa Soares.
Fonte: Público.pt
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