Poluição pode fazer boto-cinza
desaparecer da costa fluminense.
Hoje, a Baía de Guanabara tem apenas 40
botos-cinza, uma população estimada em até 1.000 nos anos 70. Foto: Instituto
Boto Cinza
Por Lúcia Müzell, da RFI.
Um dos símbolos da cidade do Rio de Janeiro corre
o risco de desaparecer da costa fluminense. Afetados pela poluição e o
desenvolvimento, os botos-cinza estão se tornando raros nas baías de Guanabara
e Sebatiba. Para tentar reverter a situação, protetores deste golfinho querem
inserir o animal na lista de ameaçados de extinção.
Hoje, a Baía de Guanabara tem apenas 40
botos-cinza, uma população estimada em até 1.000 nos anos 70. O oceanógrafo
José Lailson, coordenador do Laboratório de Mamíferos Aquáticos da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, explica como os diversos tipos de poluição marinha
afetam os golfinhos.
“Eles estão entre os animais mais contaminados do
planeta. E boa parte destes poluentes mexem com duas coisas críticas em
sistemas biológicos: ao atingir o sistema hormonal, afetam os sistemas imune e
o reprodutivo”, afirma. “O que ocorre não é uma intoxicação aguda pelo
poluente, seguida da morte do animal. O que acontece é que entra na cadeia
alimentar, chega ao boto, ele começa a não reproduzir e a morrer de doenças.”
Brito Junior lembra que os botos-cinza não
costumam migrar – por isso não escapam da poluição. Ele observa que a
construção desmedida de empreendimentos na costa não respeita a fauna e a flora
local:
“Aqui, é muito difícil de as pessoas fazerem uma
regulamentação e aplica-la. A todo o momento, licenciam novas obras,
constroem-se mais píers de atracamento, se intensificam as dragagens. Com tudo
isso, você aumenta o tráfego de embarcações, que aumentam a poluição sonora”,
comenta o pesquisador. “Construíram um píer grande bem na área mais utilizadas
pelos botos antigamente”, lamenta.
Na Baía de Sebatiba, a situação não é tão
crítica, mas bastante preocupante. A mortandade dos golfinhos é três vezes
superior do que o verificado em outras espécies, de acordo com a bióloga Kátia
Pereira da Silva, do Instituto Boto Cinza. Mesmo assim, o animal ainda não faz
parte das listas oficiais dos ameaçados de extinção, uma bandeira defendida
pelos protetores do mamífero.
“Infelizmente o boto-cinza ainda não entrou na
lista oficial, por falta de dados suficientes que viabilizem esta entrada. Já
está sendo feito um trabalho com os dados de todas as instituições e
pesquisadores para que o boto entre nesta lista”, diz. “É muito claro que essa
espécie está sofrendo muitos impactos na nossa costa, e a mortalidade dela vem
aumentando, com o passar dos anos.”
Os especialistas alertam para os riscos
crescentes deste problema, na medida em que as instalações para a extração do
pré-sal avançam a todo o vapor na costa fluminense.
Fonte: RFI
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