Importante para deter enchentes
na orla, manguezal é ecossistema ameaçado.
Desde os anos 80, cerca de 35% dos manguezais foram
destruídos em todo o mundo. A importância desse ecossistema para a proteção
costeira nem sempre é conhecida.
Uma floresta que se ergue do mar. Nas costas
tropicais, árvores singulares formam um cinturão verde entre o mar e a terra.
Os mangues precisam de águas mornas e uma mistura de água salgada e doce para
sobreviver. Numerosas espécies de aves vivem entre seus ramos e raízes aéreas.
Na água, peixes nadam entre suas raízes e caranguejos reviram o fundo
lamacento.
Desde os anos 80, entretanto, os valiosos
manguezais diminuíram em 35% em todo o mundo. Há várias razões para isso,
explica Ulrich Saint-Paul, do Centro Leibniz de Ecologia Tropical Marinha, da
Universidade de Bremen. Muitas vezes, eles são removidos para a construção de
portos, aeroportos ou residências. “Mas estas áreas também são cada vez mais
usadas para abrigar culturas de caranguejos e camarões, destinadas ao mercado
internacional.”
Para que o exterior receba camarões a preços
baratos, os países que abrigam manguezais pagam um preço alto. Com o fim dessa
vegetação, eles perdem um recurso importante, comenta Saint-Paul. “Os mangues
não são só importantes zonas de reprodução de peixes, mas servem à proteção costeira.
São barreiras naturais contra tempestades e, no quadro climático global, têm
uma função importante, pois retêm dióxido de carbono.”
A construção de barragens ou o desvio de rios
também ameaçam os manguezais, lembra o especialista em política de desenvolvimento
René Capote, que examinou manguezais em sua terra natal, Cuba, para seu
trabalho de doutorado pela Universidade de Bonn.
Mangues
são importante fonte de alimentos, como os caranguejos coletados por este homem
Segundo ele, os manguezais garantem uma água mais
limpa na zona costeira, através da filtragem de sedimentos. “Isso também é
importante para a preservação dos recifes de coral e para termos praias limpas
e, portanto, para o turismo”, lembra Capote.
Barreira natural contra tempestades
Em eventos climáticos extremos, os manguezais atuam
de várias maneiras como um cinturão de proteção. “Esse ecossistema pode
absorver uma grande quantidade de água, fazendo com que a inundação de áreas
povoadas após fortes chuvas seja reduzida”, diz o especialista cubano. Além
disso, eles também formam uma barreira natural contra ventos e ondas. “Suas
raízes aéreas e galhos seguram a inundação”, diz Femke Tonneijck, da
organização ambientalista Wetlands International, que luta pela preservação das
vegetações de mangue.
Além disso, esse ecossistema pode fornecer lenha e
alimentos às populações costeiras, na época posterior a uma catástrofe natural.
“No entanto, é necessário um cinturão de manguezais muito largo para atenuar
uma grande enchente”, sublinha Tonneijck. Por isso, ela luta por uma
revitalização das costas por meio de ações complementares, como a construção de
diques, em regiões onde os manguezais já desapareceram. Muitas vezes, nessas
áreas não há espaço suficiente para muitos quilômetros de cinturão verde.
O replantio também ajuda a combater a erosão
costeira. “Trabalhamos numa região de Java onde os mangues foram substituídos
por viveiros de peixes e camarões. Para a recuperação, você também precisa de
sedimentos, onde os mangues crescem. Em vez de construir estruturas duras, como
diques, para proteger a costa de uma erosão adicional, utilizamos estruturas de
madeira, similares a cercas, que permitem a passagem de sedimentos. Este método
tem sido usado há séculos na Holanda e no norte da Alemanha”, diz Tonneijck.
O
emaranhado de raízes absorve água e retém sedimentos
“Existem hoje técnicas muito bem sucedidas, e o
Banco Mundial financia tais projetos com muito dinheiro”, diz Saint-Paul. “Mas,
nesses casos, sempre se comete um erro: os manguezais são replantados como
monoculturas. A biodiversidade natural, que proporciona a uma floresta uma
estabilidade ecológica muito maior, não é considerada.”
Capote enfatiza ser necessário um planejamento de
longo prazo e um monitoramento constante das condições de crescimento em
projetos de revitalização de manguezais. Muitos projetos têm, segundo ele,
fracassado ao fim de poucos anos devido a negligências nos trabalhos de preparo
e manutenção de longo prazo.
Cultivo sustentável de camarão
Capote defende ainda a gestão sustentável dos
manguezais existentes, incluindo medidas para uma criação sustentável de peixes
e camarão. “Deveria ser introduzido um sistema de rotatividade que protegesse
certas áreas e que desse a zonas de mangue já exploradas a oportunidade de se
recuperarem. Além disso, deve ser evitada uma poluição duradoura através de
rações com aditivos químicos. Uma área só consegue alimentar um certo número de
camarões. É preciso escolher entre ganhos de curto prazo, que levam à
destruição de manguezais, e um lucro menor, que colabora na conservação dessas
áreas a longo prazo.”
A consciência da importância dos manguezais aumenta
após cada catástrofe provocada por tempestades tropicais, mas ela dura pouco,
critica Saint-Paul. “Precisamos de um programa educativo de longo prazo, tanto
nas escolas como na educação de adultos, para fazer com que as pessoas que
moram perto dos manguezais percebam a importância dessa vegetação e saibam as
razões pelas quais ela deve ser protegida.”
Matéria de Irene Quaile (md), na Agência Deutsche Welle,
DW.
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário