Cientistas descobrem nova espécie
de boto no rio Araguaia
Eles são parecidos com os botos-cor-de-rosa,
mas foram encontradas diferenças nos dentes e DNA
Cientistas da Universidade Federal do Amazonas
(UFAM) descobriram uma nova espécie de boto, a primeira descoberta desse gênero
desde 1918. Eles suspeitam, no entanto, que a nova espécie encontrada já tenha
vindo à tona sob risco de extinção.
No estudo publicado na revista especializada Plos
One, os pesquisadores da UFAM dizem que a espécie batizada como boto do
Araguaia é uma das cinco integrantes do gênero que também inclui o boto
cor-de-rosa, da Amazônia. Os pesquisadores estimam que haja apenas mil botos
dessa espécie vivendo no rio Araguaia.
O boto do Araguaia teria se diferenciado dos
outros familiares do gênero há mais de dois milhões de anos, segundo o
pesquisador Tomas Hrbek.
“Foi tudo muito inesperado. É uma área onde as
pessoas veem eles o tempo todo, já que são mamíferos grandes. Mas ninguém tinha
notado (que era uma outra espécie)”, disse.
As diferenças com o boto cor-de-rosa seriam o
número de dentes. A nova espécie também seria menor. Mas, a maioria das
diferenças foram encontradas nos genes do animal.
Ao analisar amostras de DNA de dezenas de botos
dos dois rios, os pesquisadores concluíram que o do rio Araguaia era mesmo uma
nova espécie.
Mas, mesmo depois destas análises, ainda pode
haver questionamento.
“Em ciência você nunca pode ter certeza de nada”,
disse Hrbek.
“Analisamos o DNA mitocondrial, o que é,
essencialmente, análise de linhagens, e não há compartilhamento de linhagens.
Os grupos que vimos, os haplótipos, têm uma relação muito mais próxima entre
eles do que entre outros grupos. Para isto acontecer, os grupos devem ter
ficado isolados uns dos outros por um período longo”, acrescentou.
“A divergência que observamos é maior do que as
divergências observadas entre outras espécies de golfinhos”, afirmou.
Futuro
Diferenciou há cerca de dois milhões de anos
Os pesquisadores temem pelo futuro do boto do Araguaia, pois parece haver pouca
diversidade genética entre esses botos devido à população reduzida. Os maiores
riscos são trazidos pela ocupação humana na região.
“Desde a década de 1960, a bacia do rio Araguaia têm passado por uma pressão
antropogênica significativa, devido a atividades agrícolas, fazendas e a
construção de hidroelétricas”, escreveram os autores do estudo na Plos One.
“Os botos estão no topo da cadeia, eles comem muito peixe. Eles roubam as
redes de pesca, então os pescadores tendem a não gostar deles, as pessoas atiram
neles”, disse Hrbek.
Para os pesquisadores, devido a esses motivos, o novo boto deveria ser
incluído na lista de espécies em maior risco de extinção.
Os golfinhos de rio, ou botos, estão entre as espécies mais raras do mundo.
Segundo a União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla
em inglês), das quatro espécies de botos já conhecidas, três estão na lista de
grande risco de extinção, a chamada Red List.
Os botos são parentes distantes dos golfinhos encontrados nos oceanos. Eles
têm bicos mais longos para poder caçar peixes no fundo dos rios, em meio à lama
e lodo.
Uma das espécies mais conhecidas é o boto do Yangtze, ou baiji, que teria
sido extinto em 2006.
Já o boto-cor-de-rosa do Amazonas é considerado uma das espécies mais
inteligentes de todos os botos.
Fonte: BBC News / BBC Brasil
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