A armadilha do PET, artigo de
Norbert Suchanek
Foi na última semana, quando uma amiga me enviou
uma foto de seu quintal de permacultura, e com orgulho ela escreveu: “Olha
estou reciclando garrafas de PET, utilizando no viveiro para as minhas
plantinhas.” A minha amiga se acha ecologicamente correta e consciente, mas sem
querer ela entrou na armadilha da grande indústria do plástico e do petróleo.
Por anos, incontáveis de workshop de reciclagem
ensinaram aos brasileiros, criancinhas, adultos, idosos, donas de casa,
comunidades carentes e povos indígenas, a maravilha de “reciclar” garrafas PET.
As garrafas de PET usadas passam então a servirem para várias coisas. Vasos
para plantas, brinquedos, bijuterias, árvores de Natal, móveis ou qualquer
coisa inimaginável. Paralelo a isso, foi criado um mercado de roupas com malha
PET, identificada como ecologicamente correta. Camisas caríssimas porque salvam
o Planeta, diz a propaganda.
Uma mentira que só virou verdade nesta sociedade
do século 21, porque foram repetidas milhares vezes. A realidade é essa: O uso
de uma garrafa PET velha no seu quintal ou em forma de roupa, ou como um
“telhado verde”, não é reciclagem e nem preserva o meio ambiente. Reciclagem é
quando uma garrafa PET velha vira uma garrafa PET nova, como é feito com as
garrafas de vidro. Só assim o uso da matéria prima, o petróleo, e o gasto de
energia estarão reduzidos. Mas o que acontece com a PET, na realidade, é o
contrário disso. A garrafa PET na prática mundial não vira uma nova garrafa
PET. A garrafa velha vira um outro produto, um processo que internacionalmente
recebeu o nome “Downcycling”.
Ao contrário do vidro, a PET não pode ser
reutilizada na linha de produção original e o seu processo de reciclagem de
verdade é ainda caro e complicado. Por isso a indústria de embalagens prefere
utilizar matéria prima para seus produtos e inventou a propaganda da
PET-Recicling.
Novos mercados para o lixo de PET foram criados
que de fato estão estimulando a produção de novas garrafas PET à base da
matéria prima petróleo. Por exemplo, o novo mercado de Eco-Camisas, Eco-Bolsas
ou Eco-mochilas de PET, precisa de produção de novas garrafas de PET à base da
matéria prima. E isto é um ato contra a sustentabilidade, contra o meu ambiente
e contra a nossa própria saúde.
Pior: ao contrário das fadas da propaganda da
indústria química, a produção de PET nem é fácil ou limpa. Além do uso de
petróleo, também várias substâncias tóxicas são necessárias ou são criadas durante
o processo. Por exemplo, a indústria está usando trióxido de antimônio no
processo de fazer PET. Mas antimônio é um metal pesado venenoso e pode criar
câncer. “A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) classifica o
trióxido de antimônio no Grupo 2B – possivelmente carcinogênico para o ser
humano.”
A substância orgânica Bisfenol-A
(BPA) é um outro grande vilão na produção de garrafas de plástico
e de outras embalagens. Esta substância de fórmula (CH3)2C(C6H4OH)2 é um
estrogênio sintético e pode causar câncer e infertilidade. Já foi provado há
anos que o Bisfenol-A pode contaminar os líquidos dentro das garrafas de PET ou
de outros plásticos.
Quem compra garrafas de PET e as usam no seu
quintal como um viveiro ou quem cria um sofá de PET ou bijuterias, também está
responsável pela continuidade do uso do petróleo, pela mineração de antimônio e
seus efeitos danificadores e pela contaminação do meio ambiente com substâncias
tóxicas e cancerígenas.
O mundo não precisa de garrafas, camisas ou
viveiros de PET. Vidro é o melhor material para guardar qualquer bebida,
inclusive a água. As garrafas de vidro podem ser reutilizadas centenas de
vezes. E o material de vidro pode ser reciclado sem fim. O próprio vidro é a
melhor matéria prima para fazer vidro.
Norbert
Suchanek, Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia, é colaborador
internacional do EcoDebate.
Fonte: EcoDebate
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