Pesquisas mostram a crescente
contaminação dos aquíferos paulistas por infiltração do esgoto urbano
Nitrato compromete a qualidade dos aquíferos
paulistas
Desde 2001, um grupo de cientistas do Centro de
Pesquisas de Água Subterrânea (Cepas) do Instituto de Geociências (IGc) da USP
tem desenvolvido pesquisas ligadas ao projeto Nitrato nas águas
subterrâneas: caracterização do problema e subsídios a políticas públicas de
planejamento territorial em cidades de São Paulo e os resultados mostram a
crescente contaminação dos aquíferos por infiltração do esgoto urbano.
Ingestão
de nitrato reduz a capacidade de transporte de oxigênio do sangue
“Em locais onde não há saneamento, a contaminação
ocorre pelas fossas ‘sépticas e negras’, já nas áreas com redes de esgoto o
problema são os vazamentos. As redes são antigas e não passam por manutenção
periódica. A presença do nitrato em áreas urbanas com rede de esgoto não era
esperada de forma tão intensa”, afirma o professor Ricardo Hirata.
Municípios como São José do Rio Preto, Jales,
Bauru, Urânia, São Paulo e Presidente Prudente (o último analisado em 2013)
apresentaram quantidade de nitrato acima do aceitável em suas águas
subterrâneas. O professor explica que o nitrato (NO3ˉ) é um dos “produtos” do
esgoto e sua concentração na água serve como parâmetro de qualidade, já que em
elevadas concentrações (acima de 45 miligramas de nitrato por litro de água)
compromete a potabilidade humana e oferece riscos, sobretudo para crianças. A
ingestão de nitrato reduz a capacidade de transporte de oxigênio do sangue e
pode levar crianças a óbito por asfixia ou a problemas crônicos de
crescimento”, diz Hirata.
Poços clandestinos
O pesquisador lembra que o Brasil e,
principalmente, o Estado de São Paulo são dependentes da água subterrânea:
“cerca de 75% das cidades paulistas têm o abastecimento público total ou
parcial feito por águas de aquíferos”. Mas alerta para o problema dos poços
clandestinos: “no Estado de São Paulo, quase 60% dos poços tubulares
(vulgarmente conhecidos como artesianos) são ilegais, ou seja, não têm controle
por parte do estado, com possibilidades de terem problemas de qualidade de suas
águas. Isso significa que a população pode estar ingerindo água degradada por
nitrato ou outros contaminantes e não saber”.
Outro problema ligado à poluição por nitrato,
segundo Hirata, é a redução da oferta de água e sua disponibilidade para o
abastecimento público e privado. “Descontaminar a água com nitrato é um
processo caro, que, hoje, não vale a pena. Então, a opção dos gestores do
recurso é fechar um poço para abrir outro em áreas menos contaminadas.”
O professor Ricardo Hirata ressalta que o objetivo
das pesquisas é auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas para tratar e
evitar o problema que tem se agravado nos últimos anos, bem como de chamar a
atenção para a contaminação de aquíferos por nitrato. Os estudos desenvolvidos
na USP têm ajudado a subsidiar um recente documento produzido pelo Grupo de
Trabalho – Nitrato (GT-Nitrato), organizado pela Câmara Técnica de Águas
Subterrâneas (CTAS) do Conselho de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo
(CERH), que visa auxiliar no enfrentamento do crescente e insidioso problema do
nitrato nos municípios paulistas.
“Além de sugerirmos mais pesquisas nessa área,
recomendamos que os poços de abastecimentos públicos nos municípios sejam
feitos em áreas de baixa densidade populacional, menos propensa à contaminação
por esgoto. Atualmente, a maioria dos poços de abastecimento público em cidades
paulistas está em áreas urbanas.”
Foto: Marcos Santos/ USP
Imagens
Matéria de Hérika Dias, da Agência USP de
Notícias
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