Ciência busca aliados naturais contra
supertempestades
HENRY FOUNTAIN
DO 'NEW YORK
TIMES'
No ano passado, o furacão Sandy, que
deixou mais de cem mortos no nordeste dos EUA, também gerou uma onda de quatro
metros que deixou um rastro de destruição, especialmente em Lower Manhattan.
Quando a inundação gerada por
supertempestades acaba e as águas recuam, chovem sugestões sobre meios de
promover a segurança de áreas habitadas de baixa altitude.
Após a passagem do Sandy, algumas
pessoas pediram a construção de muros mais altos para conter o mar. Outros
especialistas propuseram projetos ainda maiores de engenharia, como barreiras
contra elevações incomuns do mar provocadas por tempestades.
Por que não converter Lower Manhattan
em paraíso aquático, criando uma frente de marisma (terreno pantanoso) que
possa absorver ondas excepcionalmente altas geradas por tempestades?
Mas, enquanto algumas barreiras
naturais, como dunas, são comprovadamente eficazes para absorver a energia de
tempestades, não se sabe se marismas, recifes de ostras ou florestas de kelp
(um tipo de alga) podem garantir muita proteção.
As interações entre uma tempestade e os
elementos naturais são complexas, e a dinâmica de cada tempestade é diferente,
dizem cientistas, fato que torna difícil quantificar a proteção possível.
"Muitas pessoas andam dizendo que
ecossistemas úmidos podem reduzir ondas marítimas excepcionais", diz o
ecologista Rusty Feagin, da universidade Texas A&M. "Mas não há muitas
evidências empíricas disso."
De acordo com proponentes de uma
abordagem natural, pesquisas mostram que áreas pantanosas e recifes de fato
garantem alguma proteção, especialmente contra ondas.
Eles observam que soluções criadas pela
engenharia, como muros contra o mar, encerram problemas próprios --por exemplo,
podem agravar inundações e a erosão em outros lugares.
Marismas e recifes de ostras beneficiam
os ecossistemas de outras maneiras. As marismas podem se elevar continuamente,
acompanhando a elevação do nível do mar decorrente das mudanças climáticas,
porque, à medida que as gramíneas que crescem nas marismas retardam o avanço da
água, os sedimentos transportados pela água vão para o fundo, elevando o nível
do solo. E ostras filtram impurezas, melhorando a qualidade da água.
Mas mesmo os maiores proponentes de
defesas naturais reconhecem que elas têm desvantagens. "Apesar das
limitações, todas essas ideias podem garantir alguma redução de riscos",
disse Nicole P. Maher, cientista costeira sênior da Conservação Nacional em
Long Island e estudiosa da baía Jamaica, em Nova York, e outras áreas
alagadiças.
Se marismas ou recifes são eficazes
para reduzir o avanço de grandes ondas marítimas, é porque eles dissipam a
energia destas à medida que a água passa sobre gramíneas, raízes, cascas de
ostra e outros materiais, gerando atrito.
Nicole
Bengiveno/The New York Times
Gramíneas plantadas em áreas alagadiças
na baía Jamaica, em Nova York.
Para Orton, "é fato que áreas
alagadiças constituem barreiras, mas apenas no caso de áreas muito
grandes".
Faixas estreitas de marisma, como o que
foi proposto para algumas áreas em volta de Lower Manhattan, teriam quase
nenhum efeito sobre ondas extraordinárias. E boa parte do resto da área de Nova
York é tão coberta de construções que há poucos trechos grandes de áreas
alagadiças para proteção contra tempestades.
Mas, para Orton, um lugar como a baía
Jamaica, que se estende por quase 16 quilômetros, pode proporcionar alguma
proteção.
De acordo com Joannes J. Westerink, da
Universidade de Notre Dame em South Bend, Indiana, mesmo que uma faixa estreita
de marisma tivesse pouco impacto sobre ondas extraordinárias geradas por
tempestades, ela ainda assim poderia reduzir a energia das ondas.
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