Publicação reúne avaliações sobre
o risco de extinção de espécies de plantas em todo o país
Orquídea: uma das espécies sob o risco de extinção
Pesquisadores ligados ao Centro Nacional de
Conservação da Flora (CNCFlora), entidade vinculada à Diretoria de Pesquisas do
Jardim Botânico do Rio de Janeiro, elaboraram o “Livro Vermelho da Flora do
Brasil”. A publicação foi lançada nesta terça-feira (03/12), na Escola Nacional
de Botânica Tropical, Solar da Imperatriz, no Rio de Janeiro.
O livro, organizado por Gustavo Matinelli e Miguel
Ávila Moraes, revela que, do ponto de vista espacial, a maioria das espécies
ameaçadas encontra-se nos nas regiões Sudeste e Sul. De um total de 4.617
espécies avaliadas, 2.118 (45,9%) foram classificadas como ameaçadas e enquadradas
nas categorias Vulnerável (VU), Em Perigo (EN) e Criticamente em Perigo (CR).
As demais entraram nas categorias Menos Preocupante (LC), Deficiente de Dados
(DD) e Quase Ameaçada (NT).
AÇÕES DE CONSERVAÇÃO
Para os cientistas, um dos grandes desafios que os
países enfrentam, atualmente, é conhecer sua biodiversidade e avaliar o risco
de extinção das espécies nativas de seus territórios, para planejar as ações de
conservação. O Brasil concentra de 11% a 14% da diversidade de plantas do
mundo, com quase 44 mil espécies catalogadas e milhares ainda desconhecidas
pela ciência. No País estão localizadas duas das 34 áreas de grande diversidade
de espécies com alto risco de extinção (hotspots), que são a Mata Atlântica e
Cerrado.
Entre os Estados, Minas Gerais tem a maior
quantidade de espécies nas três categorias de risco de extinção (VU, EN e CR).
Na sequência, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia encabeçam a lista da flora
em risco de extinção. Mata Atlântica e Cerrado são os dois biomas em que se
verificou o maior número de espécies ameaçadas, seguidos da Caatinga e dos
Pampas.
A Amazônia ocupa o quinto lugar do ranking, o que
pode ser explicado pela vasta rede de áreas protegidas (38% de seu território),
pelas várias regiões de difícil acesso e pelas lacunas de informação sobre suas
espécies. De acordo com os pesquisadores, o livro permitirá a atualização da
“Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção”.
“O conjunto da obra oferece ao leitor todo o
conteúdo necessário para consultar o risco de extinção de espécies da flora
avaliadas”, esclarece Gustavo Martinelli, coordenador do CNCFlora. “Nesse
contexto, acreditamos que o livro terá grande utilidade para municiar tomadores
de decisão com informações científicas que possam nortear o estabelecimento de
prioridades de ação para conservação de plantas, ou mesmo para direcionar
pesquisas científicas que possam preencher lacunas de conhecimento sobre
determinados grupos taxonômicos”.
DEGRADAÇÃO
O trabalho do CNCFlora foi elaborado a partir de
ferramentas tecnológicas, obtidas em um portal online integrado, que
viabilizaram a criação de um acervo único sobre as espécies em risco de
extinção, constatando-se que a perda de hábitat e a degradação são as
principais ameaças à flora nacional. Para o secretário de Biodiversidade e
Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Cavalcanti, a publicação
apresenta avaliações de risco que servirão de subsídio essencial à elaboração
da lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção. “É, por isso mesmo, um
trabalho importantíssimo de pesquisadores brasileiros e internacionais sobre a
flora do País”, acrescenta.
Em relação às espécies avaliadas no livro, o grupo
das samambaias, avencas e xaxins (Pteridófitas), por exemplo, é o mais
ameaçado, enquanto o de musgos, entre outros (Briófitas) é, proporcionalmente,
o menos ameaçado. O estudo apontou, ainda, que a família das bromélias
(Bromeliaceae) apresenta o maior número de espécies consideradas criticamente
em perigo, seguida das famílias das orquídeas (Orchidaceae) e das que fazem
parte, por exemplo, girassóis e margaridas (Asteraceae).
PREOCUPAÇÃO
O Centro Nacional de Conservação da Flora tem a
missão de coordenar os esforços nacionais de conservação de plantas. A primeira
fase desse trabalho avaliou, cientificamente, 4.617 espécies da flora
brasileira já incluídas em listas oficiais de espécies ameaçadas. A meta é, até
2020, concluir a avaliação de risco de extinção de todas as espécies conhecidas
de plantas brasileiras.
O sistema do CNCFlora contabilizou 5.642 ameaças
incidentes sobre a flora brasileira. Dentre elas, 3.400 (60,2%) afetam espécies
consideradas em risco de extinção. A perda de hábitat e a degradação são
responsáveis por 87,35% (2.970) dessas ameaças. A agricultura é a causa
primária de perda de hábitat e degradação (36,1%). Infraestrutura e planos de
desenvolvimento (23,5%), bem como o uso de recursos naturais (22,3%), também
contribuem, de forma significativa, com esse processo. O fogo causado por
pessoas (11%) é, igualmente, uma fonte de grande preocupação dos pesquisadores.
Na web:
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de
Janeiro
Texto de Luciene de Assis, do MMA
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