Brasil investe metade do recomendado pela OCDE para o ensino básico
Foto: ABr
O Brasil deve aumentar os investimentos na
educação básica para melhorar também o ensino, analisa o diretor de Educação da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Andreas
Schleicher. Dados coletados pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos
(Pisa) de 2012 mostram que o país investe em média US$ 26.765 por estudante
entre 6 e 15 anos. Um terço da média dos demais países da OCDE, US$ 83.382. E pouco
mais da metade do que o OCDE considera como investimento mínimo por aluno, US$
50 mil. Representantes do governo reconhecem que é preciso fazer mais e em
ritmo acelerado.
“Quando se investe US$ 50 mil por aluno, o
dinheiro não importa mais, deixa de ser uma questão limitante para o desempenho
do estudante”, diz o diretor da OCDE. Segundo o relatório do Pisa divulgado na
última semana, o Brasil ocupa o 58º lugar em matemática, o 55º lugar em leitura
e o 59º em ciências em um ranking de 65 países. A prova é aplicada a cada três
anos pela organização e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos. A cada
ano, o relatório tem uma área como foco. Em 2012, o destaque foi para
matemática.
Schleicher diz que o investimento deve aumentar,
mas atribui a nota do Brasil também à falta de equidade na distribuição dos
recursos. Caso todas as escolas tivessem as mesmas condições de aprendizagem e
todos os estudantes cursassem a série adequada para a idade, (como 15 anos na
1ª série do ensino médio), o Brasil poderia chegar aos 460 pontos na avaliação,
com o mesmo investimento atual. A pontuação atual é 391.
“Se o país conseguisse eliminar a grande
repetição dos alunos e se todo estudante tivesse acesso à educação, o Brasil
teria um progresso grande, com o investimento atual. Não fiz as contas, mas
acredito que chegaria aos 460 pontos em matemática”, disse. A pontuação
conferiria ao Brasil a 43ª posição no ranking.
O relatório trouxe um alerta em relação à
aprendizagem, a nota média do país o coloca no nível 1, em um total de seis
níveis. O sexto nível é a proficiência. Estar no nível 1 significa que os
alunos conseguem fazer apenas operações básicas. Para Schleicher, é necessária
uma maior ênfase nas escolas que enfrentam dificuldades. “No Brasil, os
melhores professores estão nas melhores escolas. Em países como a China é o
oposto, se você é um bom professor você deve ajudar a melhorar o desempenho das
escolas desfavorecidas”, diz. Ele também citou a desvalorização dos docentes no
país, o que torna a carreira menos atrativa a bons estudantes. O piso para a
jornada de 40 horas é R$ 1.567.
Os dados do Pisa apontaram ainda a falta de
confiança dos alunos em aprender matemática. “Eles dizem que é preciso ter
talento para aprender a disciplina. Isso não ocorre nos países com as melhores
pontuações”, diz. Mais de 80% dos estudantes dizem que o conteúdo é muito
difícil. Em Xangai, na China, que ocupa o primeiro lugar no ranking, esse
índice é pouco mais de 50%. No Brasil, quase 55% dos estudantes acreditam que
não têm sorte, contra pouco mais de 30% de Xangai. Mais de 45% dizem que os
professores não conseguem fazê-los se interessar. Em Xangai, a porcentagem é
40%.
Apesar do cenário, o coordenador parabenizou o
Brasil pelo maior crescimento entre os países que participaram do Pisa. O país
que passou de uma pontuação de 356 em 2003 em matemática, para 391 em 2012. O
Brasil também avançou na inclusão e na redução da defasagem idade-série. São
420 mil estudantes a mais no sistema de ensino. A porcentagem de alunos do
ensino médio que não estavam na série adequada à idade caiu de 54,9% em 2000,
para 31,1% em 2012.
Schleicher acredita que, em 21 anos, o Brasil
conseguirá alcançar a média da OCDE, que em 2012, chegou a 494 pontos. “As
condições atuais sugerem que o Brasil vai ter um crescimento ainda mais
acelerado nos próximos anos e talvez alcance esse patamar em menos tempo”.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Luiz Cláudio Costa, disse que
“os indicadores nacionais e internacionais permitem aprimorar a análise”. Ele
ressaltou que a principal medida para melhorar o ensino é a valorização e a
formação do professor. “Somos o país que mais aumentou o investimento de
recursos, apesar de ainda aplicarmos um terço da média dos demais países da
OCDE. Alocar recursos no professor é fundamental, e o caminho que estamos
seguindo [com programas de formação] reforça essa tese e mostra como temos que
acelerar”, diz.
Ao analisar os dados Pisa 2012 durante a semana,
o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que a fotografia da educação
no Brasil ainda não é boa, mas destacou que os avanços podem ser considerados
uma “grande vitória”. “O resultado em relação a nossa evolução é uma grande
vitória da educação brasileira. Não podemos nos acomodar e temos ainda um
atraso histórico muito grande quando falamos em qualidade da educação. Fizemos
muito, mas temos que fazer muito mais”, disse.
Reportagem de Mariana Tokarnia, da Agência
Brasil
Fonte: EcoDebate
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