Produção de açúcar que supre gigantes Coca-Cola, Pepsi e ABF está expulsando comunidades de suas terras, diz OXFAM
Relatório inédito da ONG internacional denuncia omissão
de grandes empresas de alimentos e bebidas quanto à apropriação injusta de
terras em suas cadeias de fornecimento
Foto:
Tatiana Cardeal / OXFAM
A
OXFAM, confederação de 17 organizações que lutam pelo fim da desigualdade e da
pobreza em 94 países, divulgou nesta quarta-feira, 2 de outubro, um estudo
inédito em que aponta a omissão de três grandes empresas do setor de alimentos
e bebidas quanto a apropriações de terras em suas cadeias de fornecimento.
No relatório O GOSTO AMARGO DO AÇUCAR – O direito
à terra e as cadeias de fornecimento das maiores empresas de alimentos e
bebidas,
a OXFAM denuncia disputas por terras ligadas a empresas do ramo
sucroalcooleiro, que fornecem açúcar à Coca-Cola e à PepsiCo – e cita casos
semelhantes na cadeia de fornecimento da Associated British Foods (que, no
Brasil, detém a marca OVOMALTINE).
A partir do relatório, a OXFAM está conclamando
as três gigantes do setor alimentício a se comprometerem com um nível de
tolerância zero quanto a apropriações de terras em suas cadeias de fornecimento
que ameaçam a subsistência de populações locais – e desrespeitam ou atravancam
o processo de demarcação de terras indígenas.
Para a organização, elas devem divulgar de quem e
de onde compram suas commodities; publicar avaliações sobre como o açúcar que
compram afeta o direito à terra das comunidades locais; e usar o seu poder para
estimular governos e a indústria alimentícia como um todo a respeitarem este
direito.
As três empresas tiveram desempenho “ruim” ou
“muito ruim” quanto às suas políticas para terras no ranking da campanha Por
Trás das Marcas da OXFAM, que avalia o desempenho de dez gigantes do ramo
alimentício quanto às suas políticas com maior impacto social e ambiental.
BRASIL – Segundo o relatório publicado
nesta semana pela OXFAM, há diversas evidências de disputas em torno da
apropriação de terras no Brasil, um dos maiores produtores, exportadores e
consumidores de açúcar do mundo:
• Uma comunidade de pescadores em Pernambuco vem
lutando pelo acesso a suas terras e zonas pesqueiras depois de ter sido expulsa
violentamente, em 1998, por uma usina de produção de açúcar que supre a
Coca-Cola e a PepsiCo. Como consequência, muitas famílias hoje lutam para
sobreviver em favelas da região de Barra de Sirinhaém e do Recife.
• No Mato Grosso do Sul, comunidades indígenas
lutam contra a ocupação de suas terras por plantações de açúcar que abastecem
uma usina de propriedade da Bunge. A Coca-Cola compra açúcar da Bunge no
Brasil. As plantações de açúcar devastaram as florestas das quais estas
comunidades dependiam para se alimentar e viver.
No estudo, a OXFAM cita também um caso de Camboja
– outro país, como o Brasil, no qual a apropriação de terras ocorre de forma
historicamente injusta.
AS
MARCAS – Os
números que cercam estas três gigantes da indústria alimentícia são
contundentes:
• A Coca-Cola é o maior comprador mundial de
açúcar e controla 25% do mercado global de refrigerantes. Seu portfolio de 500
marcas inclui Diet Coke, Fanta e os sucos Del Valle.
• A PepsiCo controla 18% do mercado de
refrigerantes e possui 21 marcas em seu portfolio, incluindo Pepsi, Tropicana e
Doritos.
• A Associated British Foods é a segunda maior
produtora de açúcar do mundo e, globalmente, é proprietária de marcas como
Ovomaltine, Silver Spoon Sugar, Kingsmill e Patak’s.
NEGÓCIO
BILIONÁRIO –
Hoje, o comércio global de açúcar movimenta cerca de US$47 bilhões. O mundo
produziu 176 milhões de toneladas de açúcar no ano passado – e a indústria de
alimentos e bebidas consome mais da metade deste volume. Prevê-se que a
produção de açúcar aumente em 25% até 2020.
Ao passo que o crescente apetite por açúcar vem
gerando preocupação entre os profissionais de saúde, a OXFAM alerta que o fato de o
comércio de açúcar estar fomentando a apropriação de terras e disputas vem
sendo negligenciado.
Ao todo, 31 milhões de hectares – uma área equivalente à Itália – já estão
sendo usados para produzir açúcar, a maioria em países em desenvolvimento.
A questão da apropriação de terras se revela
grave onde comunidades locais que dependem das terras são expulsas sem qualquer
consentimento prévio ou compensação. Segundo a campanha Por Trás das Marcas da
OXFAM, as dez maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo carecem de
políticas suficientemente fortes para impedir que a apropriação e disputas por
terras façam parte de suas cadeias de fornecimento.
Segundo a diretora-executiva da OXFAM, Winnie
Byanyima, “o açúcar, já
relacionado a graves problemas de saúde, está também por trás do amargo
problema da apropriação de terras”. A Coca-Cola, a PepsiCo e a Associated
British Foods são as maiores produtoras e compradoras de açúcar do mundo, mas
estão fazendo muito pouco para garantir que o açúcar de seus produtos não
esteja sendo produzido em terras que foram arrancadas de comunidades pobres”.
“As pessoas que consomem estes produtos esperam
mais destas empresas. Estamos convidando-as a unirem-se a nós para exigirmos
que a Coca, a Pepsi e a Associated British Foods ajam agora para acabar com as
apropriações de terras. Estas três empresas têm enorme poder e influência. Se
agirem, conseguem transformar a indústria do açúcar”, disse a diretora.
A
CAMPANHA – A Por Trás das Marcas integra a campanha Cresça,
conduzida pela OXFAM em mais de 40 países, e que defende mudanças na forma de
produção e consumo de alimentos. A organização espera, por meio da divulgação
deste estudo e da mobilização online de consumidores no mundo inteiro, fazer
com que as empresas desempenhem um papel de liderança na promoção um modelo
sustentável e justo de produção de alimentos.
MAIS
INFORMAÇÕES:
Ranking e pontuação final das empresas
Fonte: EcoDebate
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