Petróleo: a história se repete,
artigo de Heitor Scalambrini Costa
Rio de Janeiro, 21/10/2013 – As tropas do Exército posicionadas em frente
ao Hotel Windsor Barra, no Posto 4 da Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca,
zona oeste da cidade, onde nesta segunda-feira, ocorreu o primeiro leilão de
Libra. Foto de Tânia Rêgo/Agência Brasil.
[EcoDebate]
Naqueles anos, de triste recordação para o povo brasileiro, mal assumiu o
governo, Fernando Henrique Cardoso (FHC) enviou ao Congresso um projeto de
emenda constitucional que visava acabar com o monopólio da Petrobras sobre a
exploração e produção de petróleo.
Em 3 maio de 2013 completou 18 anos da histórica
e heroica greve de 32 dias dos petroleiros, que em plena era FHC, foi
fundamental como movimento de resistência para impedir a privatização da
Petrobras (ou PetroBrax como se chamaria). Naquele ano de 1985 foi autorizado
pelo presidente da Republica que o exercito com tanques, metralhadoras e
militares ocupassem as refinarias e reprimissem os trabalhador@s.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP), que
liderou este movimento, acabou despertando um movimento nacional de
solidariedade resultando no grito único de que “somos todos petroleiros”. Um
alto preço foi pago, resultando na demissão de muitos trabalhador@s, e de
multas astronômicas para os sindicatos ligados a FUP. Com toda repressão a luta
valeu a pena, e a Petrobras não foi totalmente privatizada.
Agora, novamente, os petroleiros mostram o
caminho em uma greve contra o leilão do Campo de Libra,
na Bacia de Santos – a primeira licitação de área do pré-sal. Libra não é um
mero campo, é um reservatório totalmente conhecido, delimitado e estimado em
seu potencial de reservas em barris. Ou seja, esta área não é um bloco aonde a
empresa petrolífera irá “procurar petróleo”. Constitui na maior reserva
comprovada de petróleo brasileiro no pré-sal, descoberto pela Petrobras em
2010, e uma das maiores descobertas mundiais dos últimos 20 anos, possuindo
entre 12 e 14 bilhões de barris de petróleo (equivalente a dois terços das
atuais reservas brasileiras).
No dia 17/10 a presidente Dilma Rousseff assinou
um decreto que autoriza o envio, além das tropas do Exército, homens da Força
Nacional de Segurança, da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal
(PRF) para garantir (?) a realização do leilão da área de Libra, que ocorrerá
na segunda-feira (21/10) no Windsor Barra Hotel, na Barra da Tijuca, zona oeste
do Rio de Janeiro.
O Ministério da Defesa coordenou as ações com
apoio do Ministério da Justiça, em uma operação denominada de Garantia da Lei e
da Ordem (GLO) e executada pelo Comando Militar do Leste, que contou com mais
de 1.100 homens. Não estava descartada a possibilidade de reforço da Marinha e
até da Aeronáutica.
Mais uma vez a presidente Dilma decidiu imitar
FHC, pois além de privatizar o petróleo, chama o exercito contra aqueles que
denunciam o entreguismo, como o tucano fez em 1995. Além disso, alimenta a
judicialização e a criminalização por parte da mídia. Sem dúvida ficará para a
história pelo uso do exército, contra os manifestantes que defendem os
interesses nacionais.
Contra os leilões do petróleo e pela soberania
nacional. O petróleo é nosso.
Heitor
Scalambrini Costa, Articulista do Portal EcoDebate, é Professor da
Universidade Federal de Pernambuco.
Fonte: EcoDebate
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