Desafios diários dos catadores de lixo no Brasil é
tema de estudo de pesquisadora da ONU
Catadores de materiais recicláveis. Foto: Marcello Casal Jr./ABr
Você sabe para onde vai o lixo que você joga
fora? Aterros sanitários e lixões certamente não são as únicas opções de destino, como mostra a dissertação de
mestrado de Beatriz Magalhães, pesquisadora do Centro Internacional de
Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG),
instituição vinculada ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
“Liminaridade e exclusão: catadores brasileiros e
suas relações com a sociedade brasileira” traz a realidade de milhares de catadores de lixo e os desafios enfrentados por
eles diariamente.
Segundo a autora do estudo, as pessoas
normalmente têm a sensação de que o lixo desaparece depois de ser jogado fora,
o que não retrata a realidade. Magalhães destaca na pesquisa que, para os
catadores, aquele material possui valor e que seu trabalho deveria ser mais bem
reconhecido, já que se eles não levassem o lixo para a reciclagem,
provavelmente ele iria parar em um aterro ou lixão, poluindo o meio ambiente.
O estudo ainda ressalta que o trabalho dos
catadores não só ajuda a preservar a natureza como também dá uma função ao
lixo, já que o material recolhido volta para o processo produtivo.
Apesar disso, Magalhães afirma que os catadores
ainda se sentem excluídos da sociedade, “já que, como são pobres, não possuem
acesso a diversos direitos e serviços que pessoas com renda maior possuem”.
A autora fez entrevistas com diversos catadores
em Belo Horizonte entre agosto de 2010 e fevereiro de 2012 para descobrir o
ponto de vista deles sobre o ciclo do lixo. Segundo ela, uma das frases mais
interessantes que ouviu foi que o lixo é apenas lixo nos olhos de quem o está
jogando fora, mas que ele possui grande valor para aqueles que tiram dele o seu
sustento.
Beatriz Magalhães apresentando sua pesquisa
sobre o trabalho dos catadores de lixo no Brasil. Foto: IPC-IG/Tamara Santos
“Hoje, depois dos programas do governo federal,
do governo estadual, das instituições que apoiam os catadores, a gente começou
a ver a valorização do nosso trabalho, ver o quanto o catador é importante para
o meio ambiente e para a sociedade em geral”, disse a catadora Madalena.
A definição de lixo por si só traz uma conotação
pejorativa, observa a pesquisadora, acrescentando que essa mesma conotação é
usada para os próprios catadores. Porém, nas entrevistas foi fácil perceber a
troca das palavras “lixo” por “material reciclável”, mostrando que as pessoas
não tem noção do quão útil é o lixo que elas jogam fora.
“Não é lixo, né?! Não existe lixo. Eu falo que,
se fosse lixo, eu não teria criado nove filhos e não estava aí até hoje
trabalhando”, disse uma das catadoras, dona Geralda. “Então não é lixo, é
matéria que sai extraída da natureza e que as pessoas não dão o destino correto
para elas. Nós damos esse destino há muitos anos, sabemos como fazer isso”,
acrescentou.
A pesquisa conclui que os catadores vêm lutando
para obter reconhecimento e direitos na sociedade brasileira, já que, ao
contrário do consumo, a reciclagem agrega valor aos resíduos e ao ciclo do
lixo.
Informe da ONU Brasil
Fonte: EcoDebate
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