quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Desafios diários dos catadores de lixo no Brasil é tema de estudo de pesquisadora da ONU
Catadores de materiais recicláveis. Foto: Marcello Casal Jr./ABr

Você sabe para onde vai o lixo que você joga fora? Aterros sanitários e lixões certamente não são as únicas opções de destino, como mostra a dissertação de mestrado de Beatriz Magalhães, pesquisadora do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), instituição vinculada ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

“Liminaridade e exclusão: catadores brasileiros e suas relações com a sociedade brasileira” traz a realidade de milhares de catadores de lixo e os desafios enfrentados por eles diariamente.

Segundo a autora do estudo, as pessoas normalmente têm a sensação de que o lixo desaparece depois de ser jogado fora, o que não retrata a realidade. Magalhães destaca na pesquisa que, para os catadores, aquele material possui valor e que seu trabalho deveria ser mais bem reconhecido, já que se eles não levassem o lixo para a reciclagem, provavelmente ele iria parar em um aterro ou lixão, poluindo o meio ambiente.

O estudo ainda ressalta que o trabalho dos catadores não só ajuda a preservar a natureza como também dá uma função ao lixo, já que o material recolhido volta para o processo produtivo.

Apesar disso, Magalhães afirma que os catadores ainda se sentem excluídos da sociedade, “já que, como são pobres, não possuem acesso a diversos direitos e serviços que pessoas com renda maior possuem”.

A autora fez entrevistas com diversos catadores em Belo Horizonte entre agosto de 2010 e fevereiro de 2012 para descobrir o ponto de vista deles sobre o ciclo do lixo. Segundo ela, uma das frases mais interessantes que ouviu foi que o lixo é apenas lixo nos olhos de quem o está jogando fora, mas que ele possui grande valor para aqueles que tiram dele o seu sustento.
Beatriz Magalhães apresentando sua pesquisa sobre o trabalho dos catadores de lixo no Brasil. Foto: IPC-IG/Tamara Santos

“Hoje, depois dos programas do governo federal, do governo estadual, das instituições que apoiam os catadores, a gente começou a ver a valorização do nosso trabalho, ver o quanto o catador é importante para o meio ambiente e para a sociedade em geral”, disse a catadora Madalena.

A definição de lixo por si só traz uma conotação pejorativa, observa a pesquisadora, acrescentando que essa mesma conotação é usada para os próprios catadores. Porém, nas entrevistas foi fácil perceber a troca das palavras “lixo” por “material reciclável”, mostrando que as pessoas não tem noção do quão útil é o lixo que elas jogam fora.

“Não é lixo, né?! Não existe lixo. Eu falo que, se fosse lixo, eu não teria criado nove filhos e não estava aí até hoje trabalhando”, disse uma das catadoras, dona Geralda. “Então não é lixo, é matéria que sai extraída da natureza e que as pessoas não dão o destino correto para elas. Nós damos esse destino há muitos anos, sabemos como fazer isso”, acrescentou.

A pesquisa conclui que os catadores vêm lutando para obter reconhecimento e direitos na sociedade brasileira, já que, ao contrário do consumo, a reciclagem agrega valor aos resíduos e ao ciclo do lixo.

Informe da ONU Brasil


Fonte:  EcoDebate

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