segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Pesquisadores da USP apresentam mapa da poluição no mundo
A exposição a poluentes vai se tornar a principal causa ambiental de morte prematura até 2050.

Em um artigo publicado em agosto na revista Nature Reviews Cancer, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apresentam um mapa da poluição atmosférica no mundo e mostram que os países com piores índices de qualidade do ar são justamente aqueles com menor produção científica sobre o tema.

Na avaliação de Lais Fajersztajn, autora principal da pesquisa realizada com apoio da Fapesp, os resultados indicam que a ciência é uma ferramenta importante para mudar esse cenário e precisa ser fortalecida nos países em desenvolvimento por meio de colaborações internacionais. “Quanto mais conhecimento houver e melhor ele for divulgado, mais chances teremos de lidar com o problema”, disse.

Para fazer a comparação, os pesquisadores cruzaram os dados sobre densidade populacional e poluição atmosférica disponíveis no site do Banco Mundial com a base de dados Web of Science, índice de citações online mantido pela Thomson Reuters.

Enquanto países desenvolvidos como Estados Unidos, Canadá e a maior parte dos europeus apresentaram os índices mais baixos de poluição (entre 5 e 20 microgramas de material particulado inalável por metro cúbico de ar, μg/m3), as nações em desenvolvimento – concentradas principalmente na América do Sul, norte da África e regiões próximas à Índia e à China – ficaram nas faixas mais altas (entre 71 e 142 μg/m3). A recomendação da Organização Mundial da Saúde para este poluente são valores abaixo de 20 μ/m3.
“Vale dizer que os dados ainda são subestimados, pois consideram regiões muito grandes e diversas. O Brasil, por exemplo, está na mesma faixa dos Estados Unidos, que é a mais baixa. Mas é uma média de todo o país, que tem lugares muito poluídos e outros pouco poluídos”, afirmou Fajersztajn.

Já o levantamento na base da Web of Science mostrou que as pesquisas relacionadas ao impacto da poluição do ar na saúde estão concentradas principalmente na América do Norte e Europa, seguidas por China, Austrália, Brasil e Japão. É praticamente inexistente na África, na Índia e nos demais países da América do Sul. Segundo os autores, os países em desenvolvimento contribuíram com apenas 5% das pesquisas já realizadas sobre o tema.

“Alguém poderia argumentar que alguns desses países são tão pobres e têm tantos problemas que não teriam condições de produzir conhecimento científico sobre qualquer assunto. Então, para comparar, buscamos também as pesquisas publicadas sobre malária e sobre qualidade da água”, contou Fajersztajn.

Também nesses dois campos de estudo os Estados Unidos e a Europa se destacam, mas os resultados mostram que 20% das pesquisas sobre qualidade da água e 70% dos estudos sobre malária foram feitos nos países em desenvolvimento.

Paradoxalmente, ressaltam os pesquisadores no artigo, o número de mortes prematuras causadas pela poluição atmosférica tende a superar o de mortes por malária e por falta de saneamento básico nos próximos anos. Segundo estimativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a exposição a poluentes vai se tornar a principal causa ambiental de morte prematura até 2050.

“Ninguém é contra desenvolver uma vacina ou um novo medicamento contra malária, mas buscar solução para reduzir a poluição envolve interesses econômicos e mudanças de comportamento, como leis mais restritivas ao uso de carros. É um desafio muito grande e, portanto, a ciência precisa ser fortalecida nos países em desenvolvimento”, disse Fajersztajn.
Veja aqui as principais doenças que estão relacionadas à poluição reunidas pelo estudo.
Karina Toledo – Agência Fapesp

FONTE: CICLOVIVO

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