'Campus Fidei' foi montado sobre aterro clandestino
Ministério Público Estadual investiga se terreno que seria usado na Jornada pertence a empresário do setor de transporte coletivo
MARCO ANTÔNIO MARTINS DO RIO
O "Campus Fidei", terreno de 1,32 milhão de metros quadrados em Guaratiba, na zona oeste do Rio, onde aconteceriam a vigília e a missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), foi montado sobre um aterro clandestino, segundo o Ministério Público Estadual.
O terreno tem entre seus proprietários o empresário Jacob Barata Filho, de acordo com a promotora Christiane Monnerat, que apura o caso.
Ele é filho de Jacob Barata, conhecido no Rio como o "rei dos ônibus" por ser proprietário da maioria das linhas de coletivos da cidade.
A área, de manguezal, não poderia ser aterrada por ser de proteção ambiental. Além disso, o Ministério Público suspeita que foram utilizados entulho de obras e lixo hospitalar para o aterro.
Inquérito aberto na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, da Polícia Civil, investiga as responsabilidades sobre o aterro clandestino e também o fato de o INEA (Instituto Estadual do Meio Ambiente) ter concedido, em 2010, licença para que a empresa Vila Mar, dona do terreno, construísse um empreendimento habitacional.
Essa semana, proprietários da empresa e fiscais do INEA serão chamados a depor.
"É inacreditável que o poder público quisesse colocar o papa para celebrar uma missa sobre um aterro clandestino em uma área de proteção ambiental. Aquela estrutura não poderia ter sido montada ali", afirma a promotora Christiane Monnerat.
Duas perícias já foram feitas no terreno pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli, da Polícia Civil.
De acordo com a promotora, na primeira perícia foi comprovado o uso de entulho. A vistoria foi feita em janeiro, quando o local já tinha sido escolhido para receber a Jornada.
Ontem foi feita nova perícia para verificar quais mudanças ocorreram no terreno após as obras para a Jornada.
Ainda será necessária uma terceira perícia, com o uso de retroescavadeiras, para se verificar se houve de fato uso de lixo hospitalar no aterro.
Em nota, a assessoria da Jornada Mundial da Juventude informou que o terreno foi escolhido por ser uma área que permitia a peregrinação e "para não onerar os moradores de Copacabana".
Informou ainda que o terreno foi "preparado com carinho, de acordo com as normas legais".
Em nota, o INEA informou que as intervenções na área têm licença em vigor.
A Folha não conseguiu contato com o empresário Jacob Barata nem com sócios da Vila Mar.
Na quinta, a prefeitura e o Comitê Organizador da JMJ anunciaram a transferência da vigília e da missa de encerramento para Copacabana sob alegação de que as chuvas inviabilizaram a realização do evento lá.
Fonte: Folha de São Paulo
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