Desafios para os sete bilhões de superconsumidores
Editor do portal Mongabay faz uma análise do que representa a marca de sete bilhões de habitantes e alerta para os problemas que teremos que enfrentar para que as gerações futuras usufruam ao menos da mesma qualidade de vida que tivemos.
Talvez a coisa mais perturbadora sobre o Halloween este ano não são os duendes ou monstros tomando conta das ruas, mas um bebe nascido em alguma parte do mundo. A culpa não é do bebe ou de seus pais, claro, mas esta criança se tornará parte um marco artificial, porém importante: segundo a ONU, a pessoa de número sete bilhões nasceu nesta segunda-feira (31).
Isto significa que são sete bilhões de pessoas precisando, no mínimo, de água potável, comida, abrigo, remédios e educação. Em algumas partes do mundo, elas também terão um carro, um iPod, uma casa no subúrbio com jardim, animais de estimação, computadores, um cortador de grama, um microondas e talvez, uma piscina.
Apesar de raramente tratado diretamente nas políticas públicas, a questão da superpopulação é central para a sustentabilidade ambiental e bem estar humano.
A questão de quantas pessoas a Terra pode sustentar é sensível, já que acerta no centro das decisões individuais de bilhões ao redor do mundo. O que fazemos se estivermos grávidas? Queremos filhos? Qual o tamanho que desejamos para nossas familias? Ninguém quer que os outros digam quanto filhos podemos ou não ter e conversas sobre superpopulação podem implicar tais discursos.
Outros enxergam qualquer discussão sobre superpopulação como um chamado para estancar a população humana de forma que for possível, o que, claro, é ridículo. Ou condenam os defensores de misantropos, o que também é ridículo e, primeiramente, o contrário do centro da discussão.
Ainda assim, estas alegações enganosas deixaram muitos cautelosos em relação a uma das questões mais importantes da nossa época: quantas pessoas a Terra pode sustentar? E, tão importante quanto, quantas pessoas queremos? Ou ignoramos a superpopulação nos colocando em cheque. A Terra é um planeta finito; tem limites e limiares; e segundo muitos cientistas e especialistas já estamos ultrapassando muitos desses.
Atualmente, os humanos consomem o equivalente a uma Terra e meia a cada ano, segundo o relatório ‘O Planeta Vivo’ da WWF. Considerando as fontes renováveis, desde peixes até florestas e desde o carbono até a agricultura, o relatório demonstra até onde temos ultrapassado a sustentabilidade do nosso mundo. Quando a população estabilizar em 9 bilhões (ou talvez 10) em 2050, um total de 2,8 planetas Terra serão necessários se tudo continuar igual. Em outras palavras, seria preciso quase três anos para os recursos naturais se recuperarem de 1 ano de consumo humano.
Não é surpreendentemente, alguns consomem uma fatia muito maior: por exemplo, se cada pessoa consumisse tanto quanto um norte-americano padrão, a sociedade precisaria de 4,5 planetas para viver sustentavelmente.
Para entender o impacto da humanidade sobre os ecossistemas mundiais, é preciso manter em mente que eles são feitos de dois fatores. O primeiro é a população: quanto mais de nós, maior nosso impacto coletivo. O outro, entretanto, é o consumo: quanto mais recursos cada um de nós consome, mais nos distanciamos da verdadeira sustentabilidade.
Isto torna alguns muito mais reponsáveis que outros. Por exempli, segundo um estudo de 2009, uma criança nascida hoje nos Estados Unidos terá uma pegada de carbono sete vezes maior do que outra nascida no mesmo dia na China. Mas pode ser pior: a primeira teria uma pegada de carbono 55 vezes maior do que um indiano e 86 vezes maior que um nigeriano.
População multiplicada pelo consumo é a métrica importante na compreensão da pegada. Além disso, os humanos estão vivendo mais. Um sinal de bem estar da sociedade, vidas mais longas também significam um período maior para a estabilização da população e uma pegada individual maior.
Ainda assim, lidar com a superpopulação global não exige métodos draconianos ou uma tragédia humana em massa; de fato, reduzir a população e o consumo global agora tornaria tais eventos menos prováveis no futuro. Com cerca de duas a cada cinco gravidez indesejadas, pesquisas têm demonstrado que a melhor forma de reduzir o crescimento populacional, eventualmente levando a um plateau e lento declínio, é dar poder às mulheres.
O acesso universal a contraceptivos, melhoria na educação e planejamento familiar são algumas das melhores maneiras de combate a um planeta tumultuado. A redução da pobreza e da mortalidade infantil são metas adicionais que trazem o crescimento total da população abaixo. Também não seria ruim ter maior conscientização sobre a superpopulação e consumo.
Talvez a coisa mais perturbadora sobre o Halloween este ano não são os duendes ou monstros tomando conta das ruas, mas um bebe nascido em alguma parte do mundo. A culpa não é do bebe ou de seus pais, claro, mas esta criança se tornará parte um marco artificial, porém importante: segundo a ONU, a pessoa de número sete bilhões nasceu nesta segunda-feira (31).
Isto significa que são sete bilhões de pessoas precisando, no mínimo, de água potável, comida, abrigo, remédios e educação. Em algumas partes do mundo, elas também terão um carro, um iPod, uma casa no subúrbio com jardim, animais de estimação, computadores, um cortador de grama, um microondas e talvez, uma piscina.
Apesar de raramente tratado diretamente nas políticas públicas, a questão da superpopulação é central para a sustentabilidade ambiental e bem estar humano.
A questão de quantas pessoas a Terra pode sustentar é sensível, já que acerta no centro das decisões individuais de bilhões ao redor do mundo. O que fazemos se estivermos grávidas? Queremos filhos? Qual o tamanho que desejamos para nossas familias? Ninguém quer que os outros digam quanto filhos podemos ou não ter e conversas sobre superpopulação podem implicar tais discursos.
Outros enxergam qualquer discussão sobre superpopulação como um chamado para estancar a população humana de forma que for possível, o que, claro, é ridículo. Ou condenam os defensores de misantropos, o que também é ridículo e, primeiramente, o contrário do centro da discussão.
Ainda assim, estas alegações enganosas deixaram muitos cautelosos em relação a uma das questões mais importantes da nossa época: quantas pessoas a Terra pode sustentar? E, tão importante quanto, quantas pessoas queremos? Ou ignoramos a superpopulação nos colocando em cheque. A Terra é um planeta finito; tem limites e limiares; e segundo muitos cientistas e especialistas já estamos ultrapassando muitos desses.
Atualmente, os humanos consomem o equivalente a uma Terra e meia a cada ano, segundo o relatório ‘O Planeta Vivo’ da WWF. Considerando as fontes renováveis, desde peixes até florestas e desde o carbono até a agricultura, o relatório demonstra até onde temos ultrapassado a sustentabilidade do nosso mundo. Quando a população estabilizar em 9 bilhões (ou talvez 10) em 2050, um total de 2,8 planetas Terra serão necessários se tudo continuar igual. Em outras palavras, seria preciso quase três anos para os recursos naturais se recuperarem de 1 ano de consumo humano.
Não é surpreendentemente, alguns consomem uma fatia muito maior: por exemplo, se cada pessoa consumisse tanto quanto um norte-americano padrão, a sociedade precisaria de 4,5 planetas para viver sustentavelmente.
Para entender o impacto da humanidade sobre os ecossistemas mundiais, é preciso manter em mente que eles são feitos de dois fatores. O primeiro é a população: quanto mais de nós, maior nosso impacto coletivo. O outro, entretanto, é o consumo: quanto mais recursos cada um de nós consome, mais nos distanciamos da verdadeira sustentabilidade.
Isto torna alguns muito mais reponsáveis que outros. Por exempli, segundo um estudo de 2009, uma criança nascida hoje nos Estados Unidos terá uma pegada de carbono sete vezes maior do que outra nascida no mesmo dia na China. Mas pode ser pior: a primeira teria uma pegada de carbono 55 vezes maior do que um indiano e 86 vezes maior que um nigeriano.
População multiplicada pelo consumo é a métrica importante na compreensão da pegada. Além disso, os humanos estão vivendo mais. Um sinal de bem estar da sociedade, vidas mais longas também significam um período maior para a estabilização da população e uma pegada individual maior.
Ainda assim, lidar com a superpopulação global não exige métodos draconianos ou uma tragédia humana em massa; de fato, reduzir a população e o consumo global agora tornaria tais eventos menos prováveis no futuro. Com cerca de duas a cada cinco gravidez indesejadas, pesquisas têm demonstrado que a melhor forma de reduzir o crescimento populacional, eventualmente levando a um plateau e lento declínio, é dar poder às mulheres.
O acesso universal a contraceptivos, melhoria na educação e planejamento familiar são algumas das melhores maneiras de combate a um planeta tumultuado. A redução da pobreza e da mortalidade infantil são metas adicionais que trazem o crescimento total da população abaixo. Também não seria ruim ter maior conscientização sobre a superpopulação e consumo.
Questões globais na era dos sete bilhões:
Alimentação: A fome é o problema mais frequentemente citado em conjunto com a superpopulação (mesmo se muitos outros são tão graves quanto): como alimentar sete bilhões de pessoas, quanto mais os nove bilhões estimados para 2050? Segundo a ONU, hoje um bilhão de pessoas não têm alimentos suficientes. Porém, isto não é devido a produção insuficiente ao redor do mundo, mas por que a comida que produzimos não é distribuída equitavelmente.
Um terço de todos os alimentos são jogados fora no final da cadeia produtiva agrícola ou ainda são desperdiçados por agricultores, comerciantes e consumidores. Ainda assim, a FAO estima que a produção de alimento deve crescer 70% para atender aos 9 bilhões. Mas como cultivar tanto sem destruir o mesmo ambiente que sustenta a agricultura? Com as terras aráveis de qualidade acabando, há uma necessidade urgente de cultivar mais com menos área, ao mesmo tempo em que se melhora a gestão dos recursos hídricos e do solo. Especialistas continuam a debater, certas vezes furiosamente, se a produção orgânica de pequena escala é a única solução sustentável para avançarmos ou se o cultivo de OGMs, defendido pelo setor químico, é a resposta.
Água: Assim como com a alimentação, o acesso à água potável está se tornando uma preocupação crescente em um planeta superpopuloso. Mais de 800 milhões de pessoas atualmente não tem acesso a água potável, enquanto uma em cada três pessoas sofrem com a escassez, relata o Organização Mundial de Saúde.
E não é apenas os pobres que enfrentam o problema: o sudoeste norte-americano, enquanto ainda é comum ver gramados irrigados em meio ao deserto, está passando por uma crise hídrica causada principalmente pelas décadas de consumo insustentável e desperdício.
Especialistas alertam que os aqüíferos subterrâneos estão baixando ao redor do mundo, o que terá impacto direto sobre os cultivos, já que atualmente 70% da água consumida é direcionada para a agricultura. Face a problemas com a água, alguns países estão recorrendo a usinas de dessalinização e tirando sua água do mar. Todavia, a dessalinização ainda é um processo muito caro, enquanto as mudanças climáticas devem adicionar maior pressão sobre as regiões com escassez de água.
Extinção em massa: Mais pessoas consumindo mais recursos significa cada vez menos para outras milhões de espécies que habitam nosso mundo. Muitos especialistas acreditam que estamos em meio a uma extinção em massa, com as taxas estimadas entre 100 e mil vezes a taxa histórica. As Listas Vermelhas da IUCN dizem que 869 espécies foram extintas desde 1.500 AC, apesar disto ser um número amplamente subestimado, considerando a enorme quantidade que nunca foi identificada, quanto mais avaliada.
A expansão da população humana não coloca em perigo apenas grandes espécies carismáticas como rinocerontes, tigres e elefantes, mas milhares de espécies que têm papéis essenciais para a humanidade desde água limpa até a saúde do solo, seqüestro de carbono e medicina. Um colapso na biodiversidade é o presságio para o colapso dos ecossistemas.
Oceanos: Em 2008 um relatório previu que todos os estoques de peixes selvagens entrariam em colapso até 2048. Este ano, um estudo renomado prevê a extinção em massa nos oceanos devido às emissões de gases do efeito estufa e poluição. Uma vez tidos como superabundantes, a vida selvagem dos oceanos está sendo esvaziada, ou sobrepescada, em uma taxa nunca vista na história da humanidade.
Ao mesmo tempo, a acidificação dos oceanos pelas emissões de carbono colocam em perigo os ecossistemas mais biodiversos do oceano, os recifes de coral, e zonas mortas, áreas sem oxigênio devido a poluição rica em nitrogênio, estão se espalhando ao redor do mundo. Tais impactos sinérgicos significam que os oceanos do future podem ser muito diferentes do que os atuais, provavelmente fornecendo muito menos recursos, especialmente comida para as futures gerações.
Apesar dos alertas calamitosos, os estoques pesqueiros continuam a ser vigorosamente caçados, as emissões de gases do efeito estufa continuam crescendo e os oceanos ainda são um lixão para grande parte da poluição da sociedade.
Desmatamento: Todos os anos mais de 10 milhões de hectares de florestas são perdidos (uma área maior que a Hungria) de acordo com a FAO, e outros 10 milhões de hectares são degradados. Florestas são cortadas por uma variedade de razões, mas todas conectadas com a população e o consumo, com grandes empresas de agricultura e commodities sendo as protagonistas. Na América do Sul a Amazônia está sendo destruída pela pecuária, fazendas de soja e mineração. Na Indonésia e Malásia as árvores são derrubadas em nome das indústrias do papel e de óleo de palma. A pressão causada por populações rurais empobrecidas estão diminuindo as matas nas Filipinas, enquanto a demanda estrangeira por madeira degrada as florestas de Madagascar. O crescimento da demanda por energia também leva ao desmatamento, biocombustíveis, gás, petróleo e projetos hidroelétricos são os principais culpados. Segundo algumas estimativas, metade das florestas tropicais intactas do mundo estão perdidas e todos os anos mais são destruídas. Além de ser lar da maior parte da biodiversidade terrestre, florestas armazenam carbono, proteger mananciais de água limpa, produzem vapor que leva a chuvas e sustentam muitas populações rurais e indígenas.
Mudanças Climáticas: O século 21 será o século das mudanças climáticas: um estudo recente previu que regiões do Canadá, Ásia, Europa e do norte da África já sofrerão um aquecimento de 2ºC até 2030. Nosso mundo mais aquecido verá o aumento dos níveis dos oceanos, mais fenômenos climáticos extremos, maior frequência de secas e enchentes, desertificação e perda de biodiversidade, o que criará um planeta mais instável e imprevisível. O crescimento da população está ligado às emissões de gases do efeito estufa, especialmente em países ricos ou em desenvolvimento: os 7% dos habitantes mais ricos do planeta produzem mais da metade das emissões. Mais pessoas e mais consumo significam mais emissões. Na verdade, esforços para desacelerar o crescimento da população podem ter um grande impacto de mitigação nas mudanças climáticas: um estudo revelou que se diminuir o crescimento populacional reduzirias as emissões entre 16% a 29%.
Doenças: Mais humanos pode significar mais doenças. Condições de superpovoamento, especialmente nas mega cidades, e pressões crescentes no sistema de saúde publica e de saneamento básico devem fazer aumentar o número de epidemias. Apesar dos medos recentes sobre a gripe aviária e a suína foram infundados, isto não significa que o aumento populacional não terá como consequência mais casos de pandemias. As mudanças climáticas também devem resultar em transformações nas áreas afetadas pelas doenças. Possivelmente, veremos muitas doenças tropicais avançarem em direção a regiões temperadas.
Escassez de recursos: Superpopulação vai afetar os recursos renováveis e não renováveis da mesma forma. Como a sociedade está demorando para mudar para uma economia de baixo carbono, companhias de energia estão indo cada vez mais longe atrás de combustíveis (Amazônia, Ártico e até as profundezas dos oceanos), colocando em risco ecossistemas até então intactos. Preços altos pela eletricidade também estão contribuindo para o alto custo dos alimentos. Enquanto isso, muitos dos metais indispensáveis para as indústrias, como aço, cobre, platina, níquel e estanho estão se tornando mais difíceis de se conseguir e também forçando as mineradoras a explorar áreas remotas. Em muitas partes do mundo, mesmo reservas de conservação não estão mais livres da mineração.
Economia: O mundo econômico é raramente observado como um problema ambiental, já que tradicionalmente os economistas tendem a ignorar o meio ambiente. Muitos inclusive predizem que as economias mundiais continuarão crescendo exponencialmente, com as futuras gerações mais ricas do que podemos imaginar. Mas como a riqueza material pode crescer se é baseada na exploração de um mundo finito? A riqueza depende do meio ambiente e nosso planeta, além de finito em recursos, está sendo cada vez mais explorado. Até os recursos renováveis, como água e arvores, só podem ser explorados até um certo limite sem que entrem em colapso. Sustentabilidade significa garantir para as futuras gerações o acesso aos mesmos recursos que tivemos. Mas atualmente, desperdício e ganância estão levando os limites do nossa planeta até os extremos. O surgimento da economia do descartável e do superconsumo resultou em uma economia baseada no colapso dos recursos ambientais, criando o que deve ser a bolha definitiva.
Pobreza e riqueza: Atualmente, mais de um terço da população vive com menos de US$ 2 por dia, enquanto 1% das pessoas possuem 43% da riqueza mundial. Centenas de milhões de pessoas não tem acesso a comida e água suficientes para passar o dia, enquanto de acordo com a Forbes este ano viu um recorde de 1,210 bilionários, que justos somam uma fortuna de US$ 4,5 trilhões. Com mais gente no planeta, a má distribuição de renda está acentuando. Milhões não tem acesso ao mínimo para sobreviver mesmo quando vivem em países ricos em recursos. Riquezas que acabam sendo exploradas para atender as 'necessidades' de consumo de nações economicamente mais poderosas.
Bem estar: Mesmo se sobrevivamos às calamidades ambientais trazidas pela superpopulação e pelo superconsumo, mesmo se conseguirmos fazer caber 10 bilhões de pessoas no planeta, o quão felizes seremos? O superpovoamento significa o declínio de muitas necessidades humanas: privacidade, acesso à natureza e até possibilidade de ter esperança por dias melhores. É difícil imaginar um mundo de beleza e felicidade para nossos filhos, netos e bisnetos se eles só conhecerem gorilas e rinocerontes através de imagens da internet. Se eles nunca tiverem a chance de provar frutos do mar frescos ou experimentar o verdadeiro silêncio. Se eles não verem as estrelas por causa de toda a poluição luminosa das cidades ou não terem como aproveitar de um momento de solidão em um bosque.
Fonte: Mongabay
Alimentação: A fome é o problema mais frequentemente citado em conjunto com a superpopulação (mesmo se muitos outros são tão graves quanto): como alimentar sete bilhões de pessoas, quanto mais os nove bilhões estimados para 2050? Segundo a ONU, hoje um bilhão de pessoas não têm alimentos suficientes. Porém, isto não é devido a produção insuficiente ao redor do mundo, mas por que a comida que produzimos não é distribuída equitavelmente.
Um terço de todos os alimentos são jogados fora no final da cadeia produtiva agrícola ou ainda são desperdiçados por agricultores, comerciantes e consumidores. Ainda assim, a FAO estima que a produção de alimento deve crescer 70% para atender aos 9 bilhões. Mas como cultivar tanto sem destruir o mesmo ambiente que sustenta a agricultura? Com as terras aráveis de qualidade acabando, há uma necessidade urgente de cultivar mais com menos área, ao mesmo tempo em que se melhora a gestão dos recursos hídricos e do solo. Especialistas continuam a debater, certas vezes furiosamente, se a produção orgânica de pequena escala é a única solução sustentável para avançarmos ou se o cultivo de OGMs, defendido pelo setor químico, é a resposta.
Água: Assim como com a alimentação, o acesso à água potável está se tornando uma preocupação crescente em um planeta superpopuloso. Mais de 800 milhões de pessoas atualmente não tem acesso a água potável, enquanto uma em cada três pessoas sofrem com a escassez, relata o Organização Mundial de Saúde.
E não é apenas os pobres que enfrentam o problema: o sudoeste norte-americano, enquanto ainda é comum ver gramados irrigados em meio ao deserto, está passando por uma crise hídrica causada principalmente pelas décadas de consumo insustentável e desperdício.
Especialistas alertam que os aqüíferos subterrâneos estão baixando ao redor do mundo, o que terá impacto direto sobre os cultivos, já que atualmente 70% da água consumida é direcionada para a agricultura. Face a problemas com a água, alguns países estão recorrendo a usinas de dessalinização e tirando sua água do mar. Todavia, a dessalinização ainda é um processo muito caro, enquanto as mudanças climáticas devem adicionar maior pressão sobre as regiões com escassez de água.
Extinção em massa: Mais pessoas consumindo mais recursos significa cada vez menos para outras milhões de espécies que habitam nosso mundo. Muitos especialistas acreditam que estamos em meio a uma extinção em massa, com as taxas estimadas entre 100 e mil vezes a taxa histórica. As Listas Vermelhas da IUCN dizem que 869 espécies foram extintas desde 1.500 AC, apesar disto ser um número amplamente subestimado, considerando a enorme quantidade que nunca foi identificada, quanto mais avaliada.
A expansão da população humana não coloca em perigo apenas grandes espécies carismáticas como rinocerontes, tigres e elefantes, mas milhares de espécies que têm papéis essenciais para a humanidade desde água limpa até a saúde do solo, seqüestro de carbono e medicina. Um colapso na biodiversidade é o presságio para o colapso dos ecossistemas.
Oceanos: Em 2008 um relatório previu que todos os estoques de peixes selvagens entrariam em colapso até 2048. Este ano, um estudo renomado prevê a extinção em massa nos oceanos devido às emissões de gases do efeito estufa e poluição. Uma vez tidos como superabundantes, a vida selvagem dos oceanos está sendo esvaziada, ou sobrepescada, em uma taxa nunca vista na história da humanidade.
Ao mesmo tempo, a acidificação dos oceanos pelas emissões de carbono colocam em perigo os ecossistemas mais biodiversos do oceano, os recifes de coral, e zonas mortas, áreas sem oxigênio devido a poluição rica em nitrogênio, estão se espalhando ao redor do mundo. Tais impactos sinérgicos significam que os oceanos do future podem ser muito diferentes do que os atuais, provavelmente fornecendo muito menos recursos, especialmente comida para as futures gerações.
Apesar dos alertas calamitosos, os estoques pesqueiros continuam a ser vigorosamente caçados, as emissões de gases do efeito estufa continuam crescendo e os oceanos ainda são um lixão para grande parte da poluição da sociedade.
Desmatamento: Todos os anos mais de 10 milhões de hectares de florestas são perdidos (uma área maior que a Hungria) de acordo com a FAO, e outros 10 milhões de hectares são degradados. Florestas são cortadas por uma variedade de razões, mas todas conectadas com a população e o consumo, com grandes empresas de agricultura e commodities sendo as protagonistas. Na América do Sul a Amazônia está sendo destruída pela pecuária, fazendas de soja e mineração. Na Indonésia e Malásia as árvores são derrubadas em nome das indústrias do papel e de óleo de palma. A pressão causada por populações rurais empobrecidas estão diminuindo as matas nas Filipinas, enquanto a demanda estrangeira por madeira degrada as florestas de Madagascar. O crescimento da demanda por energia também leva ao desmatamento, biocombustíveis, gás, petróleo e projetos hidroelétricos são os principais culpados. Segundo algumas estimativas, metade das florestas tropicais intactas do mundo estão perdidas e todos os anos mais são destruídas. Além de ser lar da maior parte da biodiversidade terrestre, florestas armazenam carbono, proteger mananciais de água limpa, produzem vapor que leva a chuvas e sustentam muitas populações rurais e indígenas.
Mudanças Climáticas: O século 21 será o século das mudanças climáticas: um estudo recente previu que regiões do Canadá, Ásia, Europa e do norte da África já sofrerão um aquecimento de 2ºC até 2030. Nosso mundo mais aquecido verá o aumento dos níveis dos oceanos, mais fenômenos climáticos extremos, maior frequência de secas e enchentes, desertificação e perda de biodiversidade, o que criará um planeta mais instável e imprevisível. O crescimento da população está ligado às emissões de gases do efeito estufa, especialmente em países ricos ou em desenvolvimento: os 7% dos habitantes mais ricos do planeta produzem mais da metade das emissões. Mais pessoas e mais consumo significam mais emissões. Na verdade, esforços para desacelerar o crescimento da população podem ter um grande impacto de mitigação nas mudanças climáticas: um estudo revelou que se diminuir o crescimento populacional reduzirias as emissões entre 16% a 29%.
Doenças: Mais humanos pode significar mais doenças. Condições de superpovoamento, especialmente nas mega cidades, e pressões crescentes no sistema de saúde publica e de saneamento básico devem fazer aumentar o número de epidemias. Apesar dos medos recentes sobre a gripe aviária e a suína foram infundados, isto não significa que o aumento populacional não terá como consequência mais casos de pandemias. As mudanças climáticas também devem resultar em transformações nas áreas afetadas pelas doenças. Possivelmente, veremos muitas doenças tropicais avançarem em direção a regiões temperadas.
Escassez de recursos: Superpopulação vai afetar os recursos renováveis e não renováveis da mesma forma. Como a sociedade está demorando para mudar para uma economia de baixo carbono, companhias de energia estão indo cada vez mais longe atrás de combustíveis (Amazônia, Ártico e até as profundezas dos oceanos), colocando em risco ecossistemas até então intactos. Preços altos pela eletricidade também estão contribuindo para o alto custo dos alimentos. Enquanto isso, muitos dos metais indispensáveis para as indústrias, como aço, cobre, platina, níquel e estanho estão se tornando mais difíceis de se conseguir e também forçando as mineradoras a explorar áreas remotas. Em muitas partes do mundo, mesmo reservas de conservação não estão mais livres da mineração.
Economia: O mundo econômico é raramente observado como um problema ambiental, já que tradicionalmente os economistas tendem a ignorar o meio ambiente. Muitos inclusive predizem que as economias mundiais continuarão crescendo exponencialmente, com as futuras gerações mais ricas do que podemos imaginar. Mas como a riqueza material pode crescer se é baseada na exploração de um mundo finito? A riqueza depende do meio ambiente e nosso planeta, além de finito em recursos, está sendo cada vez mais explorado. Até os recursos renováveis, como água e arvores, só podem ser explorados até um certo limite sem que entrem em colapso. Sustentabilidade significa garantir para as futuras gerações o acesso aos mesmos recursos que tivemos. Mas atualmente, desperdício e ganância estão levando os limites do nossa planeta até os extremos. O surgimento da economia do descartável e do superconsumo resultou em uma economia baseada no colapso dos recursos ambientais, criando o que deve ser a bolha definitiva.
Pobreza e riqueza: Atualmente, mais de um terço da população vive com menos de US$ 2 por dia, enquanto 1% das pessoas possuem 43% da riqueza mundial. Centenas de milhões de pessoas não tem acesso a comida e água suficientes para passar o dia, enquanto de acordo com a Forbes este ano viu um recorde de 1,210 bilionários, que justos somam uma fortuna de US$ 4,5 trilhões. Com mais gente no planeta, a má distribuição de renda está acentuando. Milhões não tem acesso ao mínimo para sobreviver mesmo quando vivem em países ricos em recursos. Riquezas que acabam sendo exploradas para atender as 'necessidades' de consumo de nações economicamente mais poderosas.
Bem estar: Mesmo se sobrevivamos às calamidades ambientais trazidas pela superpopulação e pelo superconsumo, mesmo se conseguirmos fazer caber 10 bilhões de pessoas no planeta, o quão felizes seremos? O superpovoamento significa o declínio de muitas necessidades humanas: privacidade, acesso à natureza e até possibilidade de ter esperança por dias melhores. É difícil imaginar um mundo de beleza e felicidade para nossos filhos, netos e bisnetos se eles só conhecerem gorilas e rinocerontes através de imagens da internet. Se eles nunca tiverem a chance de provar frutos do mar frescos ou experimentar o verdadeiro silêncio. Se eles não verem as estrelas por causa de toda a poluição luminosa das cidades ou não terem como aproveitar de um momento de solidão em um bosque.
Fonte: Mongabay
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