Pantanal pode ter 126 usinas; peixes sofrerão riscos
Para pesquisadora da Embrapa, espécies migratórias como o pacu serão afetadas
Divulgação
Pesquisadora Débora Calheiros alerta para risco à reprodução de espécies, na Bacia do Alto Paraguai
A concretização de 82 usinas e centrais hidrelétricas em processo de licenciamento para a Bacia do Alto Paraguai, em Mato Grosso, vai colocar em risco a reprodução de espécies migratórias de grande valor comercial e turístico, como o pacu e o pintado, e a qualidade das águas do Pantanal.
Ao todo, segundo dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), 126 empreendimentos estão previstos para a região, dos quais 44 já estão em operação.
A maior parte - 70% - é de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), com potência instalada menor do que 30 megawatts.
Segundo a pesquisadora Débora Calheiros, da Embrapa Pantanal, apesar de operarem a "fio d'água" - ou seja, sem necessidade de reservatórios de grande porte -, as PCHs represam nutrientes e material em suspensão que contribuem para o funcionamento ecológico da planície.
"As PCHs não mudam a quantidade da água, mas a qualidade", disse ao MidiaNews a pesquisadora.
Mas, segundo ela, efeito combinado das usinas pode afetar o fluxo de água e os pulsos de inundação.
"O problema é que estão previstas várias PCHs para o mesmo rio, tendo como resultado final um impacto semelhante ao de um grande reservatório", declarou.
Conforme a pesquisadora, 75% da água do sistema pantaneiro vêm do norte da bacia, onde se concentra a maior parte dos projetos previstos.
"O pulso de inundação, mudando em cada um dos principais rios formadores do Pantanal, teria impactos imprevisíveis, afetando o funcionamento característico do Pantanal", disse Débora Calheiros.
A pesquisadora afirmou que cerca de 70% do potencial hidrelétrico da bacia do Alto Paraguai já estão instalados.
Na sub-bacia do rio Cuiabá, por exemplo, são cinco as barragens com geração superior a 30 megawatts.
"O aproveitamento de 100% do potencial levaria à perda de outros serviços ambientais em favor da produção de energia, como produção pesqueira e turismo", disse a pesquisadora.
Espécies migratórias como o pacu também poderão enfrentar redução populacional. "Em qualquer bacia onde se tem barragens, a produção pesqueira cai sensivelmente. E onde tem 126? Como prever?", afirmou.
A situação foi discutida na semana passada em um seminário promovido em Cáceres (225 km a Oeste de Cuiabá), com a participação de representantes dos ministérios públicos federal e estadual.
No documento intitulado "Carta de Cáceres", os participantes defenderam a suspensão dos licenciamentos, até que seja concluída uma avaliação ambiental do impacto conjunto dos empreendimentos previstos.
"A energia gerada pelas PCHs em planejamento equivalem a apenas 1% da energia a ser ofertada para o país. Ou seja, estaríamos trocando a conservação do Pantanal por 1% de energia", completou a pesquisadora.
RODRIGO VARGAS
DA REDAÇÃO
DA REDAÇÃO
Fonte - Midia News
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